30 July, 2005

O ponto de vista de Roma sobre as "outras" religiões

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

DECLARAÇÃO "DOMINUS IESUS"
SOBRE A UNICIDADE E A UNIVERSALIDADE SALVÍFICA DE JESUS CRISTO E DA IGREJA

INTRODUÇÃO 

1.  O Senhor Jesus, antes de subir ao Céu, confiou aos seus discípulos o mandato de anunciar o Evangelho a todo o mundo e de baptizar todas as nações: « Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a todas as criaturas. Quem acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado » (Mc 16,15-16); « Todo o poder Me foi no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei. E Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos » (Mt 28,18-20; cf. ainda Lc 24,46-48; Jo 17,18; 20,21; Actos 1,8).

A missão universal da Igreja nasce do mandato de Jesus Cristo e realiza-se, através dos séculos, com a proclamação do mistério de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, e do mistério da encarnação do Filho, como acontecimento de salvação para toda a humanidade. São estes os conteúdos fundamentais da profissão de fé cristã: « Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigénito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos Céus. E encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem. Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; padeceu e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai. De novo há-de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim. Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai. Com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos Profetas. Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica. Professo um só baptismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos, e a vida do mundo que há-de vir ».1

2.  A Igreja, ao longo dos séculos, proclamou e testemunhou com fidelidade o Evangelho de Jesus. Ao terminar o segundo milénio, porém, esta missão ainda está longe de se cumprir.2 Daí a grande actualidade do grito do Apóstolo Paulo sobre o dever missionário de todo o baptizado: « Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! » (1 Cor 9,16). Assim se explica a especial atenção que o Magistério tem posto na motivação e apoio da missão evangelizadora da Igreja, nomeadamente no que diz respeito às tradições religiosas do mundo.3

Tendo em conta os valores que essas tradições testemunham e oferecem à humanidade, com uma atitude aberta e positiva, a Declaração conciliar sobre a relação da Igreja com as religiões não cristãs afirma: « A Igreja Católica não rejeita absolutamente nada daquilo que há de verdadeiro e santo nessas religiões. Considera com sincero respeito esses modos de agir e de viver, esses preceitos e doutrinas que, embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que ela afirma e ensina, muitas vezes reflectem um raio daquela Verdade que ilumina todos os homens ».4 Prosseguindo na mesma linha, o empenho eclesial de anunciar Jesus Cristo, « caminho, verdade e vida » (Jo 14,6), hoje também encontra ajuda na prática do diálogo inter-religioso, que certamente não substitui, mas acompanha a missio ad gentes, graças àquele « mistério de unidade », de que « resulta que todos os homens e mulheres que foram salvos participam, embora de maneira diferente, no mesmo mistério de salvação em Jesus Cristo por meio do seu Espírito ».5 Este diálogo, que faz parte da missão evangelizadora da Igreja,6 comporta uma atitude de compreensão e uma relação de recíproco conhecimento e de mútuo enriquecimento, na obediência à verdade e no respeito da liberdade.7

3.  No exercício e aprofundamento teórico do diálogo entre a fé cristã e as demais tradições religiosas surgem novos problemas, que se tenta solucionar, seguindo novas pistas de investigação, adiantando propostas e sugerindo comportamentos, que carecem de um cuidadoso discernimento. Neste esforço, a presente Declaração entende recordar aos Bispos, aos teólogos e a todos os fiéis católicos alguns conteúdos doutrinais imprescindíveis, que podem ajudar a reflexão teológica a amadurecer soluções de acordo com o dado da fé e em correspondência com as urgências culturais do nosso tempo.

A linguagem expositiva da Declaração está em linha com a sua finalidade. Não se pretende tratar de forma orgânica a problemática da unicidade e universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo e da Igreja, nem apresentar soluções aos problemas e questões teológicos que são objecto de livre debate, mas voltar a expor a doutrina da fé católica em propósito, indicando, ao mesmo tempo, alguns problemas fundamentais que se mantêm abertos a ulteriores aprofundamentos, e confutar algumas posições erróneas ou ambíguas. É por isso que a Declaração retoma a doutrina contida nos anteriores documentos do Magistério, para reafirmar as verdades que constituem o património de fé da Igreja.

4.  O perene anúncio missionário da Igreja é hoje posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas de facto, mas também de iure (ou de principio). Daí que se considerem superadas, por exemplo, verdades como o carácter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo, a natureza da fé cristã em relação com a crença nas outras religiões, o carácter inspirado dos livros da Sagrada Escritura, a unidade pessoal entre o Verbo eterno e Jesus de Nazaré, a unidade da economia do Verbo Encarnado e do Espírito Santo, a unicidade e universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo, a mediação salvífica universal da Igreja, a não separação, embora com distinção, do Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja, a subsistência na Igreja Católica da única Igreja de Cristo.

Na raiz destas afirmações encontram-se certos pressupostos, de natureza tanto filosófica como teológica, que dificultam a compreensão e a aceitação da verdade revelada. Podem indicar-se alguns: a convicção de não se poder alcançar nem exprimir a verdade divina, nem mesmo através da revelação cristã; uma atitude relativista perante a verdade, segundo a qual, o que é verdadeiro para alguns não o é para outros; a contraposição radical que se põe entre a mentalidade lógica ocidental e a mentalidade simbólica oriental; o subjectivismo de quem, considerando a razão como única fonte de conhecimento, se sente « incapaz de levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser »;8 a dificuldade de ver e aceitar na história a presença de acontecimentos definitivos e escatológicos; o vazio metafísico do evento da encarnação histórica do Logos eterno, reduzido a um simples aparecer de Deus na história; o eclectismo de quem, na investigação teológica, toma ideias provenientes de diferentes contextos filosóficos e religiosos, sem se importar da sua coerência e conexão sistemática, nem da sua compatibilidade com a verdade cristã; a tendência, enfim, a ler e interpretar a Sagrada Escritura à margem da Tradição e do Magistério da Igreja.

Na base destes pressupostos, que se apresentam com matizes diferentes, por vezes como afirmações e outras vezes como hipóteses, elaboram-se propostas teológicas, em que a revelação cristã e o mistério de Jesus Cristo e da Igreja perdem o seu carácter de verdade absoluta e de universalidade salvífica, ou ao menos se projecta sobre elas uma sombra de dúvida e de insegurança.

 
I. O CARÁCTER PLENO E DEFINITIVO
DA REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO

5.  Para fazer frente a essa mentalidade relativista, que se vai difundindo cada vez mais, há que reafirmar, antes de mais, o carácter definitivo e completo da revelação de Jesus Cristo. Deve, de facto, crer-se firmemente na afirmação de que no mistério de Jesus Cristo, Filho de Deus Encarnado, que é « o caminho, a verdade e a vida » (cf. Jo 14,6), dá-se a revelação da plenitude da verdade divina: « Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o queira revelar » (Mt 11,27); « A Deus, ninguém jamais O viu. O próprio Filho Único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer » (Jo 1,18); « É em Cristo que habita corporalmente toda a plenitude da divindade e n'Ele participais da sua plenitude » (Col 2,9).

Fiel à palavra de Deus, o Concílio Vaticano II ensina: « A verdade profunda, tanto a respeito de Deus como da salvação dos homens, manifesta-se-nos por esta revelação na pessoa de Cristo, que é simultaneamente o mediador e a plenitude de toda a revelação ».9 E sublinha: « Jesus Cristo, portanto, Verbo Encarnado, enviado como “homem aos homens”, “fala as palavras de Deus” (Jo 3,34) e consuma a obra da salvação que o Pai Lhe confiou (cf. Jo 5,36; 17,4). Por isso, Ele — ao qual quem vê, vê o Pai (Jo 14,9) — com a sua total presença e manifestação pessoal, com as palavras e as obras, com os sinais e com os milagres e, sobretudo, com a sua morte e gloriosa ressurreição de entre os mortos, enfim, com o envio do Espírito de Verdade, completa perfeitamente a revelação e a confirma com o seu testemunho divino [...]. A economia cristã, portanto, como nova e definitiva aliança, jamais passará, e não mais se deve esperar nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Tim 6,14 e Tit 2,13) ».10

Por isso, a Encíclica Redemptoris missio relembra à Igreja a missão de proclamar o Evangelho, como plenitude da verdade: « Nesta Palavra definitiva da sua revelação, Deus deu-Se a conhecer do modo mais pleno: Ele disse à humanidade quem é. E esta auto-revelação definitiva de Deus é o motivo fundamental pelo qual a Igreja é, por sua natureza, missionária. Não pode deixar de proclamar o Evangelho, ou seja, a plenitude da verdade que Deus nos deu a conhecer acerca de Si mesmo ».11 Só a revelação de Jesus Cristo, portanto, « introduz na nossa história uma verdade universal e última, que leva a mente do homem a nunca mais se deter ».12

6.  É, por conseguinte, contrária à fé da Igreja a tese que defende o carácter limitado, incompleto e imperfeito da revelação de Jesus Cristo, que seria complementar da que é presente nas outras religiões. A razão de fundo de uma tal afirmação basear-se-ia no facto de a verdade sobre Deus não poder ser compreendida nem expressa na sua globalidade e inteireza por nenhuma religião histórica e, portanto, nem pelo cristianismo e nem sequer por Jesus Cristo.

Semelhante posição está em total contradição com as precedentes afirmações de fé, segundo as quais, temos em Jesus Cristo a revelação plena e completa do mistério salvífico de Deus. Portanto, as palavras, as obras e o inteiro facto histórico de Jesus, se bem que limitados enquanto realidades humanas, têm, todavia, como sujeito a Pessoa divina do Verbo Encarnado, « verdadeiro Deus e verdadeiro homem »,13 e assim comportam o carácter definitivo e completo da revelação dos caminhos salvíficos de Deus, embora a profundidade do mistério divino em si mesmo permaneça transcendente e inesgotável. A verdade sobre Deus não é abolida nem diminuída pelo facto que é proferida numa linguagem humana. É, invés, única, plena e completa, porque quem fala e actua é o Filho de Deus Encarnado. Daí a exigência da fé em se professar que o Verbo feito carne é, em todo o seu mistério que vai da encarnação à glorificação, a fonte, participada mas real, e a consumação de toda a revelação salvífica de Deus à humanidade,14 e que o Espírito Santo, que é o Espírito de Cristo, ensinará aos Apóstolos e, por meio deles, à Igreja inteira de todos os tempos, esta « verdade total » (Jo 16, 13).

7.  A melhor resposta à revelação de Deus é a « obediência da fé (Rom 1,5; cf. Rom 16,26; 2 Cor 10,5-6), com a qual o homem se entrega livre e totalmente a Deus, oferecendo a Deus “revelador a submissão plena da inteligência e da vontade” e dando voluntariamente assentimento à revelação feita por Ele ».15 A fé é um dom da graça: « Porque para professar esta fé, é necessária a graça de Deus que previne e ajuda, e os outros auxílios internos do Espírito Santo, o qual mova e converta para Deus os corações, abra os olhos da alma, e dê “a todos a suavidade no aderir e dar crédito à verdade” ».16

A obediência da fé comporta a aceitação da verdade da revelação de Cristo, garantida por Deus, que é a própria Verdade:17 « A fé é, antes de mais, uma adesão pessoal do homem a Deus; ao mesmo tempo e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou ».18 A fé, portanto, « dom de Deus » e « virtude sobrenatural por Ele infundida »,19 comporta uma dupla adesão: a Deus, que revela, e à verdade revelada por Ele, pela confiança que se tem na pessoa que o afirma. Por isso « não se deve acreditar em mais ninguém, a não ser em Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo ».20

Deve, portanto, manter-se firmemente a distinção entre a fé teologal e a crença nas outras religiões. Se fé é aceitar na graça a verdade revelada, « que permite penetrar no seio do mistério, favorecendo a sua inteligência coerente »,21 a crença nas outras religiões é o conjunto de experiência e pensamento, que constitui os tesouros humanos de sabedoria e de religiosidade, que o homem na sua procura da verdade ideou e pôs em prática em referência ao Divino e ao Absoluto.22

Nem sempre se tem presente essa distinção na reflexão hodierna, sendo frequente identificar a fé teologal, que é aceitação da verdade revelada por Deus Uno e Trino, com crença nas outras religiões, que é experiência religiosa ainda à procura da verdade absoluta e ainda carecida do assentimento a Deus que Se revela. Essa é uma das razões porque se tende reduzir, e por vezes até anular, as diferenças entre o cristianismo e as outras religiões.

8.  Existe também quem avance a hipótese do valor inspirado dos textos sagrados de outras religiões. Certamente deve admitir-se que alguns elementos presentes neles são de facto instrumentos, através dos quais, multidões de pessoas puderam, através dos séculos, e podem ainda hoje alimentar e manter a sua relação religiosa com Deus. Por isso, o Concílio Vaticano II, referindo-se aos modos de agir, aos preceitos e doutrinas das outras religiões, afirma — como cima se recordou — que, « embora em muitos pontos estejam em discordância com aquilo que [a Igreja] afirma e ensina, muitas vezes reflectem um raio daquela Verdade, que ilumina todos os homens ».23

A tradição da Igreja, porém, reserva o qualificativo de textos inspirados aos livros canónicos do Antigo e Novo Testamento, enquanto inspirados pelo Espírito Santo.24 Fiel a esta tradição, a Constituição dogmática sobre a divina Revelação do Concílio Vaticano II ensina: « Com efeito, a Santa Mãe Igreja, por fé apostólica, tem como sagrados e canónicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque escritos por inspiração do Espírito Santo (cf. Jo 20,31; 2 Tim 3,16; 2 Pedro 1,19-21; 3,15-16), têm Deus por autor e, como tais, foram confiados à própria Igreja ».25 Tais livros « ensinam com firmeza, com fidelidade e sem erro, a verdade que Deus, por causa da nossa salvação, quis consignar nas Sagradas Letras ».26

Embora querendo congregar em Cristo todas as gentes e comunicar-lhes a plenitude da sua revelação e do seu amor, Deus não deixa de Se tornar presente sob variadas formas « quer aos indivíduos, quer aos povos, através das suas riquezas espirituais, das quais a principal e essencial expressão são as religiões, mesmo se contêm “lacunas, insuficiências e erros” ».27 Portanto, os livros sagrados das outras religiões, que sem dúvida alimentam e orientam a existência dos seus sequazes, recebem do mistério de Cristo os elementos de bondade e de graça neles presentes.

II. O LOGOS ENCARNADO E O ESPÍRITO SANTO NA OBRA DA SALVAÇÃO

9.  Na reflexão teológica contemporânea é frequente fazer-se uma aproximação de Jesus de Nazaré, considerando-o uma figura histórica especial, finita e reveladora do divino de modo não exclusivo, mas complementar a outras presenças reveladoras e salvíficas. O Infinito, o Absoluto, o Mistério último de Deus manifestar-se-ia assim à humanidade de muitas formas e em muitas figuras históricas: Jesus de Nazaré seria uma delas. Mais concretamente, seria para alguns um dos tantos vultos que o Logos teria assumido no decorrer dos tempos para comunicar em termos de salvação com a humanidade.

Além disso, para justificar, de um lado, a universalidade da salvação cristã e, do outro, o facto do pluralismo religioso, há quem proponha uma economia do Verbo eterno, válida também fora da Igreja e sem relação com ela, e uma economia do Verbo Encarnado. A primeira teria um plus-valor de universalidade em relação à segunda, que seria limitada aos cristãos, se bem que com uma presença de Deus mais plena.

10.  Semelhantes teses estão em profundo contraste com a fé cristã. Deve, de facto, crer-se firmemente na doutrina de fé que proclama que Jesus de Nazaré, filho de Maria, e só ele, é o Filho e o Verbo do Pai. O Verbo, que « estava no princípio junto de Deus » (Jo 1,2), é o mesmo « que Se fez carne » (Jo 1,14). Em Jesus « o Cristo, o Filho do Deus vivo » (Mt 16,16) « habita corporalmente toda a plenitude da divindade » (Col 2,9). Ele é « o Filho unigénito, que está no seio do Pai » (Jo 1,18), o seu « Filho muito amado, no qual temos a redenção [...]. Aprouve a Deus que n'Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus » (Col 1,13-14.19-20).

Fiel à Sagrada Escritura e refutando interpretações erróneas e redutivas, o primeiro Concílio de Niceia definiu solenemente a própria fé em « Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado unigénito do Pai, ou seja, da substância do Pai; Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por meio do qual foram criadas todas as coisas do céu e da terra. Por nós homens e pela nossa salvação, desceu do céu, encarnou e Se fez homem, sofreu e ressuscitou ao terceiro dia, voltou a subir ao céu, donde virá para julgar os vivos e os mortos ».28 Seguindo os ensinamentos dos Padres, também o Concílio de Calcedónia professou « que o único e idêntico Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, é Ele mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem [...], consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a humanidade [...]; gerado do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nos últimos dias, Ele mesmo por nós e pela nossa salvação, de Maria, a virgem Mãe de Deus, segundo a humanidade ».29

Por isso, o Concílio Vaticano II afirma que Cristo, « novo Adão », « imagem de Deus invisível » (Col 1,15), « é o homem perfeito, que restituiu à descendência de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado [...]. Cordeiro inocente, pelo seu sangue voluntariamente derramado, mereceu-nos a vida e n'Ele Deus nos reconciliou consigo e connosco, libertando-nos da escravidão do diabo e do pecado, de tal sorte que cada um pode dizer com o Apóstolo: o Filho de Deus “amou-me e entregou-Se a Si mesmo por mim” (Gal 2,20) ».30

A esse respeito, João Paulo II declarou explicitamente: « É contrário à fé cristã introduzir qualquer separação entre o Verbo e Jesus Cristo [...]: Jesus é o Verbo Encarnado, pessoa una e indivisa [...]. Cristo não é diferente de Jesus de Nazaré; e este é o Verbo de Deus, feito homem para a salvação de todos [...]. À medida que formos descobrindo e valorizando os diversos tipos de dons, e sobretudo as riquezas espirituais, que Deus distribuiu a cada povo, não podemos separá-los de Jesus Cristo, o qual está no centro da economia salvadora ».31

É igualmente contra a fé católica introduzir uma separação entre a acção salvífica do Logos, enquanto tal, e a do Verbo feito carne. Con a encarnação, todas as acções salvíficas do Verbo de Deus fazem-se sempre em unidade com a natureza humana, que Ele assumiu para a salvação de todos os homens. O único sujeito que opera nas duas naturezas — humana e divina — é a única pessoa do Verbo.32

Portanto, não é compatível com a doutrina da Igreja a teoria que atribui uma actividade salvífica ao Logos como tal na sua divindade, que se realizasse « à margem » e « para além » da humanidade de Cristo, também depois da encarnação.33

11.  Do mesmo modo, deve crer-se firmemente na doutrina de fé sobre a unicidade da economia salvífica querida por Deus Uno e Trino, em cuja fonte e em cujo centro se encontra o mistério da encarnação do Verbo, mediador da graça divina no plano da criação e da redenção (cf. Col 1,15-20), « recapitulador de todas as coisas » (cf. Ef 1,10), « tornado para nós justiça, santificação e redenção » (1 Cor 1,30). De facto, o mistério de Cristo tem uma sua unidade intrínseca, que vai da eleição eterna em Deus até à parusia: « N'Ele [o Pai] nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos, na caridade, santos e irrepreensíveis diante d'Ele » (Ef 1,4); « Foi também n'Ele que fomos feitos herdeiros, segundo os desígnios de quem tudo realiza conforme decide a sua vontade » (Ef 1,11); « Pois àqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de que Ele fosse o Primogénito de muitos irmãos. E aqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e, àqueles que justificou, também os glorificou » (Rom 8,29-30).

O Magistério da Igreja, fiel à revelação divina, afirma que Jesus Cristo é o mediador e o redentor universal: « O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, encarnou, a fim de, como homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular todas as coisas. O Senhor [...] é aquele a quem o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou à sua direita, constituindo-O juiz dos vivos e dos mortos ».34 Esta mediação salvífica implica também a unicidade do sacrifício redentor de Cristo, sumo e eterno Sacerdote (cf. Hebr 6,20; 9,11; 10,12-14).

12.  Há ainda quem sustente a hipótese de uma economia do Espírito Santo com um carácter mais universal que a do Verbo Encarnado, crucificado e ressuscitado. Também essa afirmação é contrária à fé católica, que, ao contrário, considera a encarnação salvífica do Verbo um acontecimento trinitário. No Novo Testamento o mistério de Jesus, Verbo Encarnado, constitui o lugar da presença do Espírito Santo e o principio da sua efusão na humanidade, não só nos tempos messiânicos (cf. Act 2,32-36; Jo 7,39; 20,22; 1 Cor 15,45), mas também nos que precederam a sua entrada na história (cf. 1 Cor 10,4; 1 Pedro 1,10-12).

O Concílio Vaticano II repropôs à consciência da fé da Igreja essa verdade fundamental. Ao expor o plano salvífico do Pai sobre a humanidade inteira, o Concílio liga estreitamente, desde o princípio, o mistério de Cristo com o do Espírito.35 Toda a obra de edificação da Igreja por parte de Jesus Cristo Cabeça, no decorrer dos séculos, é vista como uma realização que Ele faz em comunhão com o seu Espírito.36

Além disso, a acção salvífica de Jesus Cristo, com e pelo seu Espírito, estende-se, para além dos confins visíveis da Igreja, a toda a humanidade. Falando do mistério pascal, em que Cristo agora já associa vitalmente a Si no Espírito o crente e lhe dá a esperança da ressurreição, o Concílio afirma: « E isto vale não apenas para aqueles que crêem em Cristo, mas para todos os homens de boa vontade, no coração dos quais, invisivelmente, opera a graça. Na verdade, se Cristo morreu por todos e a vocação última do homem é realmente uma só, a saber divina, nós devemos acreditar que o Espírito Santo oferece a todos, de um modo que só Deus conhece, a possibilidade de serem associados ao mistério pascal ».37

É claro, portanto, o laço entre o mistério salvífico do Verbo Encarnado e o do Espírito, que mais não faz que actuar a influência salvífica do Filho feito homem na vida de todos os homens, chamados por Deus a uma única meta, quer tenham precedido historicamente o Verbo feito homem, quer vivam depois da sua vinda na história: de todos eles é animador o Espírito do Pai, que o Filho do homem doa com liberalidade (cf. Jo 3,34).

Por isso, o recente Magistério da Igreja recordou com firmeza e clareza a verdade de uma única economia divina: « A presença e acção do Espírito não atingem apenas os indivíduos, mas também a sociedade e a história, os povos, as culturas, as religiões [...]. Cristo ressuscitado, pela virtude do seu Espírito, actua já no coração dos homens [...]. É ainda o Espírito que infunde as “sementes do Verbo”, presentes nos ritos e nas culturas, e as faz maturar em Cristo ».38 Embora reconhecendo a função histórico-salvífica do Espírito em todo o universo e na inteira história da humanidade,39 o Magistério, todavia afirma: « Este Espírito é o mesmo que operou na encarnação, na vida, morte e ressurreição de Jesus e opera na Igreja. Não é, portanto, alternativo a Cristo, nem preenche uma espécie de vazio, como por vezes se julga que exista entre Cristo e o Logos. O que o Espírito realiza no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões, assume um papel de preparação evangélica e não pode deixar de referir-se a Cristo, Verbo feito carne pela acção do Espírito, “a fim de, como Homem perfeito, salvar todos os homens e recapitular em Si todas as coisas” ».40

Concluindo, a acção do Espírito não se coloca fora ou ao lado da de Cristo. Trata-se de uma única economia salvífica de Deus Uno e Trino, realizada no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus, actuada com a cooperação do Espírito Santo e estendida, no seu alcance salvífico, à inteira humanidade e ao universo: « Os homens só poderão entrar em comunhão com Deus através de Cristo, e sob a acção do Espírito ».41

III. UNICIDADE E UNIVERSALIDADE DO MISTÉRIO SALVÍFICO DE JESUS CRISTO

13.  É igualmente frequente a tese que nega a unicidade e a universalidade salvífica do mistério de Jesus Cristo. Tal posição não tem nenhum fundamento bíblico. Deve, invés, crer-se firmemente, como dado perene da fé da Igreja, a verdade de Jesus Cristo, Filho de Deus, Senhor e único salvador, que no seu evento de encarnação, morte e ressurreição realizou a história da salvação, a qual tem n'Ele a sua plenitude e o seu centro.

Os testemunhos neo-testamentários afirmam-no claramente: « O Pai enviou o seu Filho como salvador do mundo » (1 Jo 4,14); « Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo » (Jo 1,29). No seu discurso perante o sinédrio, Pedro, para justificar a cura do homem que era aleijado desde o nascimento, cura realizada no nome de Jesus (cf. Actos 3,1-8), proclama: « E não há salvação em nenhum outro, pois não existe debaixo do Céu outro nome dado aos homens, pelo qual tenhamos de ser salvos » (Actos 4,12). O mesmo Apóstolo acrescenta ainda que Jesus Cristo « é o Senhor de todos »; « foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos »; pelo que « todo o que acredita n'Ele recebe, pelo seu nome, a remissão dos pecados » (cf. Actos 10,36.42.43).

Paulo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, escreve: « Porque, embora digam haver deuses no céu e na terra, — na verdade são muitos esses deuses e esses senhores — para nós há um só Deus: o Pai, de quem tudo procede e para o qual fomos criados; e há um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual tudo existe e pelo qual também nós existimos » (1 Cor 8,5-6). Também o Apóstolo João afirma: « Deus amou de tal maneira o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o homem que acredita n'Ele não se perca, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para este ser salvo por seu intermédio » (Jo 3,16-17). No Novo Testamento, a vontade salvífica universal de Deus está estritamente ligada à única mediação de Cristo: « [Deus] quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade. Pois Deus é um só, e um só também o Mediador entre Deus e os homens: esse homem, que é Cristo Jesus, que Se entregou à morte para resgatar a todos » (1 Tim 2,4-6).

É sobre esta consciência do dom de salvação único e universal dado pelo Pai por meio de Jesus Cristo no Espírito (cf. Ef 1,3-14), que os primeiros cristãos se dirigiram a Israel, mostrando que a salvação se alcançava para além da Lei, e enfrentaram o mundo pagão de então, que aspirava à salvação através de uma pluralidade de deuses salvadores. Este património de fé voltou a ser proposto pelo recente Magistério da Igreja: « A Igreja crê que Cristo, morto e ressuscitado por todos (cf. 2 Cor 5,15), oferece à humanidade, pelo seu Espírito, luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação. Ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual eles devam ser salvos (cf. Actos 4,12). Ela crê também que a chave, o centro e o fim de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre ».42

14.  Deve, portanto, crer-se firmemente como verdade de fé católica que a vontade salvífica universal de Deus Uno e Trino é oferecida e realizada de uma vez para sempre no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus.

Tendo presente este dado de fé, a teologia hoje, meditando na presença de outras experiências religiosas e no seu significado no plano salvífico de Deus, é convidada a explorar se e como também figuras e elementos positivos de outras religiões reentram no plano divino de salvação. Neste empenho de reflexão abre-se à investigação teológica um vasto campo de trabalho sob a guia do Magistério da Igreja. O Concílio Vaticano II, de facto, afirmou que « a única mediação do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas uma cooperação múltipla, que é participação na fonte única ».43 Há que aprofundar o conteúdo desta mediação participada, que deve ser todavia regulada pelo princípio da única mediação de Cristo: « Se não se excluem mediações participadas de diverso tipo e ordem, todavia elas recebem significado e valor unicamente da de Cristo, e não podem ser entendidas como paralelas ou complementares desta ».44 Seriam, invés, contrárias à fé cristã e católica as propostas de solução que apresentam uma acção salvífica de Deus fora da única mediação de Cristo.

15.  Não é raro que se proponha evitar na teologia termos como « unicidade », « universalidade », « absoluto », cujo uso daria a impressão de se dar uma ênfase excessiva ao significado e valor do evento salvífico de Jesus Cristo em relação às demais religiões. Ora, essa linguagem não faz mais que exprimir a fidelidade ao dado revelado, uma vez que constitui uma evolução das próprias fontes da fé. Desde o início, efectivamente, a comunidade dos crentes atribuiu a Jesus um valor salvífico de tal ordem, que apenas Ele, como Filho de Deus feito homem, crucificado e ressuscitado, por missão recebida do Pai e no poder do Espírito Santo, tem por finalidade dar a revelação (cf. Mt 11,27) e a vida divina (cf. Jo 1,12; 5,25-26; 17,2) à humanidade inteira e a cada homem.

Neste sentido, pode e deve dizer-se que Jesus Cristo tem para o género humano e para a sua história um significado e um valor singulares e únicos, só a Ele próprios, exclusivos, universais, absolutos. Jesus é, de facto, o Verbo de Deus feito homem para a salvação de todos. Recebendo esta consciência de fé, o Concílio Vaticano II ensina: « O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, encarnou, a fim de, como homem perfeito, salvar a todos e recapitular todas as coisas. O Senhor é o fim da história humana, “o ponto para o qual tendem os desejos da história e da civilização”, o centro da humanidade, a alegria de todos os corações e a plenitude das suas aspirações. É aquele a quem o Pai ressuscitou dos mortos, exaltou e colocou à sua direita, constituindo-O juiz dos vivos e dos mortos ».45 « Precisamente esta singularidade única de Cristo é que Lhe confere um significado absoluto e universal, pelo qual, enquanto está na História, é o centro e o fim desta mesma História: “Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípioe o Fim” (Ap 22,13) ».46

IV. UNICIDADE E UNIDADE DA IGREJA

16.  O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico: Ele mesmo está na Igreja e a Igreja n'Ele (cf. Jo 15,1ss.; Gal 3,28; Ef 4,15-16; Actos 9,5); por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, unida de modo inseparável ao seu Senhor. Jesus Cristo, com efeito, continua a estar presente e a operar a salvação na Igreja e através da Igreja (cf. Col 1,24-27),47 que é o seu Corpo (cf. 1 Cor 12,12-13.27; Col 1,18).48 E, assim como a cabeça e os membros de um corpo vivo, embora não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo e a Igreja não podem confundir-se nem mesmo separar-se, constituindo invés um único « Cristo total ».49 Uma tal inseparabilidade é expressa no Novo Testamento também com a analogia da Igreja Esposa de Cristo (cf. 2 Cor 11,2; Ef 5,25-29; Ap 21,2.9).50

Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: « uma só Igreja católica e apostólica ».51 Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.52

Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica53 — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: « Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1 Tim 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele ».54 Com a expressão « subsistit in », o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que « existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição »,55 isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica.56 Acerca destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica ».57

17.  Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele.58 As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares.59 Por isso, também nestas Igrejas está presente e actua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objectivamente tem e exerce sobre toda a Igreja.60

As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico,61 não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram baptizados nestas Comunidades estão pelo Baptismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja.62 O Baptismo, efectivamente, tende por si ao completo desenvolvimento da vida em Cristo, através da íntegra profissão de fé, da Eucaristia e da plena comunhão na Igreja.63

« Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não exista em parte alguma, tornando-se, assim, um mero objecto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades ».64 « Os elementos desta Igreja já realizada existem, reunidos na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais Comunidades ».65 « Por isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso no mistério da salvação ou sejam vazias de significado, já que o Espírito Se não recusa a servir-Se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica ».66

A falta de unidade entre os cristãos é certamente uma ferida para a Igreja; não no sentido de estar privada da sua unidade, mas « porque a divisão é um obstáculo à plena realização da sua universalidade na história ».67

V. A IGREJA, REINO DE DEUS E REINO DE CRISTO

18.  A missão da Igreja é a « de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de instaurá-lo entre todos os povos; desse Reino ela é na terra o germe e o início ».68 Por um lado, a Igreja é « sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do género humano »;69 ela é, portanto, sinal e instrumento do Reino: chamada a anunciá-lo e a instaurá-lo. Por outro, a Igreja é o « povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo »;70 ela é portanto « o Reino de Cristo já presente em mistério »,71 constituindo assim o seu germe e início. O Reino de Deus tem, de facto, uma dimensão escatológica: é uma realidade presente no tempo, mas a sua plena realização dar-se-á apenas quando a história terminar ou se consumar.72

Dos textos bíblicos e dos testemunhos patrísticos, bem como dos documentos do Magistério da Igreja, não se tiram significados unívocos para as expressões Reino dos Céus, Reino de Deus e Reino de Cristo, nem para a relação das mesmas com a Igreja, sendo esta um mistério que não se pode encerrar totalmente num conceito humano. Podem existir, portanto, diversas explicações teológicas dessas expressões, mas nenhuma dessas possíveis explicações pode negar ou esvaziar de maneira nenhuma a conexão íntima entre Cristo, o Reino e a Igreja. Pois, « o Reino de Deus, que conhecemos pela Revelação não pode ser separado de Cristo nem da Igreja... Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus, por Ele pregado, acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a quem tudo se deve submeter (cf. 1 Cor 15,27). De igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente a ambos ».73

19.  Afirmar a relação inseparável entre Igreja e Reino não significa porém esquecer que o Reino de Deus — mesmo considerado na sua fase histórica — não se identifica com a Igreja na sua realidade visível e social. Não se deve, de facto, excluir « a obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja ».74 Daí que se deva também considerar que « o Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a actuação do seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude ».75

Ao considerar as relações entre Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja hão-de evitar-se sempre as acentuações unilaterais, como são as « concepções que propositadamente colocam o acento no Reino, auto-denominando-se de “reino-cêntricas”, pretendendo com isso fazer ressaltar a imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a testemunhar e servir o Reino. É uma “Igreja para os outros” — dizem — como Cristo é o “homem para os outros” [...]. Ao lado de aspectos positivos, essas concepções revelam frequentemente outros negativos. Antes demais, silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se num “teo-centrismo”, porque — como dizem — Cristo não pode ser entendido por quem não possui a fé n'Ele, enquanto que povos, culturas e religiões se podem encontrar na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma razão, privilegiam o mistério da criação, que se reflecte na variedade de culturas e crenças, mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal como o entendem eles, acaba por marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como reacção a um suposto « eclesiocentrismo » do passado, por considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás passível de ambiguidade ».76 Tais teses são contrárias à fé católica, por negarem a unicidade da relação de Cristo e da Igreja com o Reino de Deus.

VI. A IGREJA E AS RELIGIÕES NO QUE CONCERNE A SALVAÇÃO

20.  De quanto acima se recordou, resultam ainda alguns pontos necessários para o percurso que a reflexão teológica deve seguir no aprofundamento da relação da Igreja e das religiões com a salvação.

Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Baptismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo tal como por uma porta ».77 Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação ».78

A Igreja é « sacramento universal de salvação »,79 porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem.80 Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, « a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo ».81 Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez « tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai ».82

21.  Quanto ao modo como a graça salvífica de Deus, dada sempre através de Cristo no Espírito e em relação misteriosa com a Igreja, atinge os não cristãos, o Concílio Vaticano II limitou-se a afirmar que Deus a dá « por caminhos só por Ele conhecidos ».83 A teologia esforça-se por aprofundar a questão. Há que encorajar esse esforço teológico, que sem dúvida serve para aumentar a compreensão dos desígnios salvíficos de Deus e dos caminhos que os realizam. Todavia, de quanto acima foi dito sobre a mediação de Jesus Cristo e sobre a « relação única e singular »84 que a Igreja tem com o Reino de Deus entre os homens — que é substancialmente o Reino de Cristo Salvador universal —, seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus.

Não há dúvida que as diversas tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus,85 e que fazem parte de « quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões ».86 Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à acção de Deus.87 Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos.88 Por outro lado, não se pode ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.89

22.  Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. Act 17,30-31).90 Esta verdade de fé nada tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ».91 Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação.92 Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo ».93 Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo ».94

A missão ad gentes, também no diálogo inter-religioso, « mantém hoje, como sempre, a sua validade e necessidade ».95 Com efeito, « Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4): quer a salvação de todos através do conhecimento da verdade. A salvação encontra-se na verdade. Os que obedecem à moção do Espírito de verdade já se encontram no caminho da salvação; mas a Igreja, a quem foi confiada essa verdade, deve ir ao encontro do seu desejo e oferecer-lha. Precisamente porque acredita no plano universal de salvação, a Igreja deve ser missionária ».96 O diálogo, portanto, embora faça parte da missão evangelizadora, é apenas uma das acções da Igreja na sua missão ad gentes.97 A paridade, que é um pressuposto do diálogo, refere-se à igual dignidade pessoal das partes, não aos conteúdos doutrinais e muito menos a Jesus Cristo — que é o próprio Deus feito Homem — em relação com os fundadores das outras religiões. A Igreja, com efeito, movida pela caridade e pelo respeito da liberdade,98 deve empenhar-se, antes de mais, em anunciar a todos os homens a verdade, definitivamente revelada pelo Senhor, e em proclamar a necessidade da conversão a Jesus Cristo e da adesão à Igreja através do Baptismo e dos outros sacramentos, para participar de modo pleno na comunhão com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Aliás, a certeza da vontade salvífica universal de Deus não diminui, antes aumenta, o dever e a urgência do anúncio da salvação e da conversão ao Senhor Jesus Cristo.

CONCLUSÃO

23.  A presente Declaração, ao relembrar e esclarecer algumas verdades de fé, quis seguir o exemplo do Apóstolo Paulo aos fiéis de Corinto: « Pois eu transmiti-vos em primeiro lugar o mesmo que havia recebido » (1 Cor 15,3). Perante certas propostas problemáticas ou mesmo erróneas, a reflexão teológica é chamada a reconfirmar a fé da Igreja e a dar razão da sua esperança de forma convincente e eficaz.

Os Padres do Concílio Vaticano II, debruçando-se sobre o tema da verdadeira religião, afirmaram: « Acreditamos que esta única verdadeira religião se verifica na Igreja Católica e Apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou a missão de a difundir a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: “Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinai-lhes a cumprir tudo quanto vos mandei” (Mt 28,19-20). Por sua vez, todos os homens estão obrigados a procurar a verdade, sobretudo no que se refere a Deus e à sua Igreja, e a abraçá-la e pô-la em prática, uma vez conhecida ».99

A revelação de Cristo continuará a ser na história « a verdadeira estrela de orientação » 100 para toda a humanidade: « A Verdade, que é Cristo, impõe-se como autoridade universal ». 101 O mistério cristão, com efeito, supera qualquer barreira de tempo e de espaço e realiza a unidade da família humana: « Dos mais diversos lugares e tradições, todos são chamados, em Cristo, a participar na unidade da família dos filhos de Deus [...]. Jesus abate os muros de divisão e realiza a unificação, de um modo original e supremo, por meio da participação no seu mistério. Esta unidade é tão profunda que a Igreja pode dizer com São Paulo: “Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19) ». 102

O Sumo Pontífice João Paulo II, na Audiência concedida, a 16 de Junho de 2000, ao abaixo-assinado Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, com ciência certa e com a sua autoridade apostólica ratificou e confirmou esta Declaração, decidida em Sessão Plenária, e mandou que fosse publicada.

Dado em Roma, sede da Congregação para a Doutrina da Fé, 6 de Agosto 2000, Festa da Transfiguração do Senhor.

Joseph Card. Ratzinger
Prefeito

Tarcisio Bertone, S.D.B.
Arcebispo emérito de Vercelli
Secretário      
------------------------------------------------------------------------
As NOTAS BIBLIOGRÁFICAS deste texto podem ser encontradas, juntamente com o texto, em:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20000806_dominus-iesus_po.html

"Aquele que domina uma cólera nascente tal como uma carruagem desabalada, a este eu chamo de verdadeiro condutor"

O DHAMAPADA XVII - Cólera

"Que um homem ponha de lado a cólera, que ele esqueça o orgulho, que se livre de toda a escravidão! Nenhum sofrimento cai sobre o homem que não se apega ao nome e à forma e que a coisa nenhuma chama de sua.

Aquele que domina uma cólera nascente tal como uma carruagem desabalada, a este eu chamo de verdadeiro condutor; aos outros considero apenas como seguradores de rédeas.

Que um homem domine a cólera por meio do amor, que do- mine o mal com o bem; que domine a avareza com a liberalidade, a mentira com a verdade!

Fala a verdade, não cedas à cólera; dá, se te pedirem um pouco; por meio desses três passos chegarás perto dos deuses.

Os sábios que não injuriam ninguém e que sempre controlam seus corpos, esses irão para o lugar que não muda nunca (Nirvana), onde, se tiverem ido, não sofrerão mais.

Aqueles que estão sempre observando, que estudam noite e dia e que se esforçam em prol de Nirvana, terão pôsto um fim a suas paixões.

Eis um velho ditado, ó Atula, não é como hoje - "Eles censuram-no porque fica calado, eles o censuram porque fala muito, também censuram o que pouco diz; não há ninguém no mundo que não seja censurado."

Nunca houve, nunca haverá, nem há agora, um homem que sempre seja censurado, ou um outro que seja sempre elogiado.

Mas aquele a quem os que sabem distinguir louvam continua- mente dia após dia como sem mácula, como prudente e rico em saber e virtude, quem ousaria censurá-lo, sendo ele semelhante a uma moeda feita de ouro tirado do rio Gambu? Até os deuses o louvam ele é louvado até pelo Brahman.

Toma cuidado com a cólera do teu corpo e controla o corpo! Deixa os pecados do corpo e pratica a virtude com o teu corpo!

Cuida da cólera da língua e controla tua língua! Deixa os pecados da língua e pratica a virtude com tua língua!

Toma cuidado com a cólera do espírito e controla teu espírito! Abandona os pecados do espírito e pratica a virtude com teu espírito!

Os sábios que controlam o corpo, que controlam a língua, os sábios que controlam o espírito são na verdade bem controlados."

Cientistas assassinados: as idéias não se matam

Por Federico Kukso

En el año 213 a.C., el emperador chino Shi-Hoang-Ti mandó destruir todas las obras escritas hasta el momento, enterró vivos a más de cuatrocientos escritores y decretó por antojo que cualquiera que guardase tablillas de bambú correría la misma suerte. Mil doscientos años después, fray Tomás de Torquemada impulsó otra fastuosa quema de libros que abriría, con cenizas y fuego, el camino a la Inquisición española y, ya entrado el siglo XX, el holocausto (humano y cultural) desatado por el nazismo.

La lógica destructiva no guarda secretos: en momentos álgidos, los primeros en caer son los libros y luego sus autores (escritores, científicos, intelectuales, en fin, aquellos que se atreven a pensar sin tutelas), como si las ideas mismas pudieran ser borradas de la misma manera en la que un huracán hace añicos una casa de chapa que se le atraviesa en su camino.

Por eso, no resulta del todo extraño descubrir en esta época de barbarie terrorista y paranoia maquillada de libertad huellas de esa misma lógica aniquilante cerca de las calles de Bagdad, Afganistán, Nueva York, Madrid y, ahora, Londres. Para gusto de los fanáticos de conspiraciones y adoradores de las historias sin cierre, mes a mes se acrecientan las listas de científicos muertos, las dudas que estos asesinatos evocan y las hipótesis sobre su autoría que echan a correr.

Abundan, obviamente, las tramas capaces de saltar a las páginas de autores como H. P. Lovecraft, Umberto Eco o Dan Brown, pero lo que más asustan son las cifras descarnadas que arrojan desde 2001 por lo menos 47 asesinatos de científicos que en su momento escaparon del gobierno de Saddam Hussein. Los muertos, sin embargo, están en ambos bandos. En Estados Unidos, tibiamente comienzan a circular en Internet los nombres de más de 50 científicos que acabaron sus días en raras circunstancias. La mayoría de ellos eran bioquímicos y especialistas en control de enfermedades. El australiano David Banks murió con otras 15 personas en un accidente aéreo cuando viajaba hacia Queensland; John Clark, quien desarrolló las técnicas de clonación que terminaron en el desarrollo de la oveja Dolly (el primer clon animal), fue encontrado ahorcado en su casa. En junio de 2004, el físico nuclear John Mullen fue asesinado con una dosis masiva de arsénico. En agosto de ese año, el doctor Eugene Mallove, experto en energía alternativa e investigador de fusión fría, fue molido a golpes cerca de su casa en California...

La lista es larga y entre las causas de muerte figuran choques, disparos de bala, explosiones de autos, virus no catalogados, mutilaciones, supuestos ataques al corazón y tropezones fatales en bañaderas. Los científicos habrán muerto pero sus ideas se resisten a desaparecer, como la búsqueda de la verdad detrás de cada azote de injusticia.

Fonte:
http://www.pagina12web.com.ar/imprimir/diario/suplementos/futuro/13-1251-2005-07-30.html

A mídia-mundo, qual um Deus arbitrário, garante que a espiral de violência irracional é o destino irremovível da Humanidade

(A mídia-mundo insiste em apontar na direção do crescimento da violência irracional como o destino da Humanidade. É revelador que depois de tanto esforço para eliminar um Deus compreendido como arbitrário, tenhamos retornado sócio-psiquicamente ao jugo absoluto e despótico de um único destino que se afirma irremovível. Vejam este artigo que alimenta o que venho sustentando há muito tempo: a supressão da dimensão pré-humana nos processos de decisão ditos culturais, a eliminação da Natureza e de suas leis próprias, gerou o vigor sinistro do ego narcísico, da violência irracional da afirmação do eu sobre o outro. Evandro).

PANORAMA POLITICO
Terrores

Por J. M. Pasquini Durán

La decisión del Ejército Republicano Irlandés (IRA) que depuso las armas después de treinta años de lucha sostenida contra el imperio británico es una reivindicación de la política como instrumento de convivencia, sin renunciar a los principios y fines de cada uno, justo cuando el terrorismo ciego trata de predominar sobre la puja ideológica, reemplazándola por la violencia asesina en nombre de sentimientos primarios vinculados con la fe religiosa o la raza.

La contribución del IRA resalta todavía más cuando se la compara con el permiso para matar que el gobierno laborista inglés extendió de James Bond a sus agentes reales. Hasta el atentado a las Torres Gemelas en Manhattan, los policías de Scotland Yard que portan armas estaban autorizados, en los casos de enfrentamiento, a disparar dos balazos en el pecho del agresor, pero ahora pueden y deben volarle la cabeza al sospechoso.

El ex jefe de la fuerza, John Stevens, explicó en su momento la nueva orden: "Estudiamos la experiencia en Israel y otros países que sufrieron ataques suicidas y la conclusión en todos fue una sola: la única manera de detener a un terrorista es destruir su cerebro antes que pueda hacer nada". Todo el mundo sabe que el método logró en Londres el viernes 22 hacer blanco en un joven brasileño, rematado de cinco tiros en la cabeza por agentes del SO19, rama especial de Scotland Yard, cuyo mayor delito era vivir en esa ciudad con la visa vencida.

El contraterrorismo es tan ciego y cruel como el enemigo que combate: "Ante la duda es preferible matar", aseguraron las autoridades. ¿La espiral de violencia irracional será el destino fatal para el "choque de civilizaciones" que presagian los ensayistas conservadores?

La política, pensada como instrumento de civilización para resolver los conflictos humanos en dirección al progreso, se vuelve inútil cuando sucumbe a la lógica del horror. Sin embargo, el concepto del terror comienza a aparecer con mayor frecuencia en el lenguaje cotidiano de los políticos, aunque sea como calificativo para desprestigiar al adversario. Sólo como referencia: el ministro Ginés García acusó a los sindicalistas del Hospital Garrahan de ejercer "el terrorismo sanitario" entre la población, una frase desafortunada de una persona que en otras áreas de su gestión demostró una encomiable amplitud de miras.

Tal vez por esos antecedentes se hace más llamativa esta claudicación del lenguaje ante la cultura de la violencia enceguecida y cruel de los depredadores de la especie humana. Este tipo de trastornos retóricos, amplificados por la difusión mediática, llueven sobre las espaldas de una sociedad castigada por décadas de violencia, incluso por el terrorismo de Estado, con altas dosis de impunidad, por lo que todavía es susceptible a las tentaciones de demonizar al Otro, de resolver los conflictos en términos de antinomias absolutas.

Carlos Menem, arquetipo del conservador populista, pretendía dividir la sociedad en facciones irreconciliables con sus campañas de las dos veredas o de las plazas del "sí", mientras lo que en realidad hacía era desmembrar al cuerpo social en dos porciones, una mínima privilegiada y una máxima de pobreza y de indigencia. Así, en nombre del unicato, se abrieron brechas de injusticia social que hasta hoy perduran, devorando la paciencia de los que la sufren.

El "capitalismo social" que invoca el actual ministro Roberto Lavagna no debería tolerar que la brecha de ingresos entre un docente y un ministro, ambos pagados por el Estado, sea de uno a diez, incluso más en algunos distritos, porque eso pondrá siempre en peligro la convivencia ordenada y pacífica.

Las injusticias, cuando son flagrantes, trastrocan hasta los valores más consagrados. El horror es una de las formas crueles de la injusticia y las sociedades sacudidas por esos impactos se vuelven permeables también a las reacciones extremas y toleran la cancelación de derechos civiles y de espacios de libertad en nombre de una seguridad que nunca llega por ese camino.

En otro tipo de tragedias, como las que vive Buenos Aires desde el incendio de República Cromañón, es frecuente la tentación de usurpar el dolor y la indignación para convertirlos en instrumentos del marketing político, sobre todo en un período de campaña electoral. Sin razón ni derecho pero con el dolor en llagas, las teorías del linchamiento hacen pie con facilidad en el ánimo de la colectividad agredida, pero eso debería ser tan inaceptable como las doctrinas de seguridad que disparan a la cabeza sin preguntar ni juzgar.

Por cierto: no hay consuelo alguno para la muerte absurda y mucho menos cuando los padres deben enterrar a sus hijos. Aunque las víctimas y sus familiares jamás podrán ser compensados por ningún tipo de recompensa, lo menos que la sociedad puede exigir, para sí misma, son tribunales rigurosos y diligentes que juzguen y condenen todas las culpas y responsabilidades en la medida que la ley y la evidencia lo permitan.

Uno de los recursos legales es el juicio político a las autoridades administrativas y una comisión de la Legislatura de la ciudad, reducida a nueve miembros por la previa renuncia de otros siete, quiere aplicarlo a Aníbal Ibarra. En la víspera dio a conocer su veredicto, que incluye además sanciones a otros funcionarios del gobierno metropolitano. El texto de la comisión determina una conclusión que está en el sentido común de los ciudadanos: "La concurrencia en el acontecimiento trágico de la imprudencia parcial de asistentes al evento e incluso la avaricia económica de actores, gestores y agentes privados, no pueden asumir entidad determinante para diluir y menos todavía para exonerar las responsabilidades públicas [...]".

Es suficiente con recordar los informes posteriores a la tragedia, producidos por la misma administración, para constatar que el Estado y el gobierno de la ciudad fueron imprudentes, imprevisores y aun irresponsables en la prevención y la custodia de la seguridad de los locales públicos dedicados al baile, los espectáculos, el comercio y muchos más. Un tribunal político de esta naturaleza debería ser el ámbito adecuado para que la reflexión permita abrir las puertas hacia una profunda reforma del Estado y de la gestión administrativo– institucional, porque la infraestructura y muchas de sus normas están obsoletas, tanto como la vieja política que persiste en sobrevivir en la nueva Legislatura y, a veces, con caras nuevas para añejos estilos.

En realidad, el rasgo más importante de la renovación producida, por el momento, es la fragmentación increíble de fracciones partidarias, al punto que al ciudadano corriente le resultaría imposible enumerar de memoria la lista de bloques legislativos. Ibarra, por su lado, se ha ganado las críticas que abundan en la ciudad sobre su gestión y tal vez la tragedia que hoy lo enjuicia puso al desnudo buena parte de los motivos para las quejas. Que no todas las deficiencias de la ciudad pertenecen a su obra, es cierto, pero como le sucede al comandante de una nave, en su momento aceptó salir a navegar en las condiciones que la recibió y tuvo ya seis años de mandato cumplido para repararla. Lo que no pudo, no supo o no quiso, lo mismo que las tareas cumplidas, quedaron devorados por las llamas que consumieron casi dos centenares de vidas. Así pasó de prometedor líder de la transversalidad y compañero frecuente en actos públicos del Presidente a ser el ausente más notorio de la campaña electoral del oficialismo, figura incómoda para los candidatos del plebiscito K y fácil blanco para la oposición, sobre todo para Macri y Carrió, que disputan los votos de la Capital con el canciller Rafael Bielsa. Por lo tanto, desde el punto de vista de la sociedad que vota pero no participa de los quehaceres cotidianos de las rivalidades partidarias, ahora todos deberían hacer el mayor esfuerzo para que la política se aparte del horror, del terror y del linchamiento y sea el modo superior de la convivencia social, como alguna vez la imaginaron sus ancestros más ilustres.

Fonte:
http://www.pagina12web.com.ar/diario/elpais/1-54393-2005-07-30.html#

O verdadeiro terror é quando a Justiça diz que é melhor a morte de inocentes do que o risco do terrorismo

(Vejam este artigo, a partir da inquietante afirmação feita pelo presidente do Consejo General del Poder Judicial de España, Francisco José Hernando. Evandro)

No estamos en guerra mundial alguna
José Carlos García Fajardo*

29 de julio de 2005

"Estamos ante la Tercera Guerra Mundial, que es la guerra contra el terrorismo. Y entonces en una guerra hay que crear situaciones extremas. Y soy contrario, como es natural, a la pena de muerte. Pero cuando el riesgo que se pretende evitar es mayor o puede producir la muerte de inocentes, la evitación del riesgo me parece oportuno". Esta aberración jurídica ha sido propuesta por presidente del Consejo General del Poder Judicial de España, Francisco José Hernando.

Es muy fuerte sostener que estamos en plena guerra sin que ningún país la haya declarado. No existe estado de guerra si no la sostienen los Estados soberanos, de acuerdo con sus ordenamientos jurídicos, y si no participan los ejércitos. Podría tratarse de una exageración o de una licencia verbal pero no es el caso cuando se trata de la más alta magistratura jurídica del Estado español, ante la que ceden el paso todas las demás, incluida la Jefatura del Estado. Estamos en un Estado de Derecho, no en tiempos del absolutismo monárquico, o en plena dictadura militar o ideológica. Un Estado que forma parte de la Unión Europea regido por Leyes que garantizan la seguridad jurídica que caracteriza al auténtico Estado de Derecho, junto con la distinción de poderes, ejecutivo, legislativo y judicial.

Desde 1215, en la Carta Magna, otorgada por Juan Sin Tierra a los Barones de Inglaterra, se establece el Habeas Corpus, es decir la presunción de inocencia, que nadie pueda ser condenado sin ser juzgado, que nadie pueda ser detenido sin mandamiento judicial, que nadie pueda ser torturado. Esto lo sabe el Presidente del Tribunal Supremo español. ¿Qué ha ocurrido? Pues que se le ha calentado la boca, como se le calentaron las neuronas al policía británico que descerrajó siete balazos en la cabeza de un inocente inmigrante brasileño. Siete balazos en la cabeza de un hombre, previamente derribado en tierra por otro disparo, es el ensañamiento propio de un sádico que tiene que ser apartado del servicio policial porque es indigno de portar armas. Por supuesto, después de ser juzgado y de responder civil o criminalmente por su actuación desmedida él y sus mandos.

No estamos en estado de guerra mundial. Si así fuese, regirían las Convenciones de Ginebra y de Varsovia, los Tratados Internacionales establecidos y la actuación de la Cruz y de la Media Luna rojas. Estamos en un estado de shock emocional alentado por las palabras insensatas de los gobernantes y de los políticos. Causa espanto escuchar en los medios de comunicación a dirigentes de la Casa Blanca y al propio Blair, o a Putin y a Aznar. No es lícito tirar a matar y después preguntar. Todos somos inocentes mientras no se demuestre fehacientemente lo contrario. No le es lícito al Estado utilizar los medios terroristas, armas de destrucción masiva o desproporcionadas. No vale todo con el pretexto de salvar a inocentes. No rige la Ley de la selva, la ley del más fuerte y más despiadado. No podemos imitar al Juez de la horca, Roy Bean, que la movía a su antojo al oeste del río Pecos.

El abuso de expresiones como guerra contra la droga, contra el hambre o contra el terrorismo puede inducir a un equívoco fatal pues los espacios se definen por sus contenidos y las cosas por sus nombres. No puede darse una guerra nada más que entre ejércitos sometidos todos a las normas establecidas. El que las quebrante será tratado como criminal de guerra ante los tribunales adecuados, entre ellos, el Tribunal Penal Internacional que no reconocen ni EEUU, ni Rusia, ni India, ni China, ni Israel, entre otros países en los que se está sacralizando el uso de la fuerza cuando es en defensa de "sus intereses". Es el planteamiento maquiavélico que ha sostenido a todos los poderes violentos, injustos y extremos: "no le faltarán al Príncipe razones para justificar sus crímenes... pues la fuerza es justa cuando es necesaria" Lo grave es que la necesidad viene decidida por los intereses y la arbitrariedad del que manda.

Esto es totalitarismo propio de regímenes injustos y antidemocráticos en los que al opositor, al disidente, se le consideraba representante del Mal contra el Bien que creen representar los que detentan el poder. Los enemigos lo eran por razones ideológicas de raza, estamento social, religión o cualquier otro fundamentalismo.

Pero eso ocurría en la Alemania nazi, en la URRS y en la China de Mao, en el Estado de Israel o en Camboya, en la Sudáfrica del apartheid o, desgraciadamente, en las colonias explotadas por Portugal, Bélgica, Francia o Gran Bretaña. Lo que no nos podíamos imaginar es que en las antiguas naciones en donde se acuñó y desarrolló el sistema político garante de los Derechos Humanos Fundamentales se propagase este especie contaminadora del tiro en la nuca sólo por razones de rasgos físicos o por la falacia de que el orden y la seguridad se pueden anteponer a la Justicia y al Derecho. Existen otros medios y otras estrategias más amplias y que comienzan por preguntarnos por las motivaciones de esta creciente plaga terrorista, algunas de las cuales podemos remover y reparar las injusticias cometidas, entre otras las ocupaciones y explotación de sus tierras, costumbres y riquezas. Después, que caiga el peso de la ley sobre los culpables con todas sus consecuencias pero sin conculcar los principios que inspiran a un auténtico Estado de Derecho.

* Profesor de Pensamiento Político (UCM) y Director del CCS

Solidarios 2005 ©

El recorte de derechos aboca al autoritarismo

Xavier Caño*
29 de julio de 2005

El diagnóstico parece desesperanzador: el mundo civilizado suspende en Derechos Humanos. El terror, realidad terrible a la que hacer frente, vence en la medida en que se ignoran valores y principios que sustentan la democracia.

Álvaro Uribe, presidente de Colombia, hizo aprobar una ley llamada de justicia y paz, que pretende desmovilizar a los paramilitares. Varias organizaciones de derechos humanos, con Amnistía Internacional a la cabeza, denuncian que esa ley no significa más que dar impunidad para quienes han cometido crímenes de guerra y contra la humanidad en el conflicto que ensangrenta a Colombia desde hace 40 años. Amnistía Internacional ha documentado que las estructuras paramilitares permanecen intactas tras la presunta desmovilización y que se violan derechos humanos en zonas desmovilizadas sobre el papel. Amnistía ha demostrado también que desde diciembre de 2002, fecha en que las Autodefensas Unidas de Colombia declararon un alto el fuego unilateral, ha habido ¡2.200 homicidios y desapariciones! atribuibles a fuerzas paramilitares. Con esa ley el gobierno colombiano renuncia a la verdad, la justicia y la reparación a las víctimas en miles de casos de violaciones graves de derechos humanos.

La segunda historia es un botón de muestra, que se conoce gracias a una acción internacional de Amnistía Internacional. Se trata del infierno del australiano David Hicks, preso desde hace más de mil días en la base-cárcel estadounidense de Guantánamo. Hicks fue detenido en Afganistán, donde colaboraba con el gobierno talibán y, desde su internamiento, ha sido golpeado y torturado repetidamente, sometido a privación sistemática del sueño e inyectado con sustancias desconocidas. Ha permanecido sin salir de su celda durante ocho meses y no ha podido hablar con un abogado hasta dos años después de su detención. Este horror se suma a los otros conocidos del resto de presos encerrados en Guantánamo y a las sesiones de tortura de insurgentes en Abu Ghraib (Irak). Todos protagonizados y responsabilidad del gobierno de los EEUU.

La tercera historia para recordar es la pretensión del gobierno de Tony Blair de recortar derechos y libertades como torpe respuesta a los repugnantes y terribles atentados en el metro de Londres. Afortunadamente, la oposición parlamentaria no ha aceptado prorrogar la detención cautelar sin control judicial de dos semanas a tres meses. No vale esgrimir el peligro real del terrorismo para retroceder en los logros de civilización y de libertades obtenidos. Cherie Blair, esposa del primer ministro británico, ha declarado hace unos días que „es muy fácil responder al terror de una forma que socava nuestro compromiso con los valores más profundos y nuestro derecho a proclamarnos nación civilizada‰. Y ha añadido con gran lucidez que „en nuestros conflictivos tiempos en los que el terrorismo, la división y la sospecha están a la orden del día, los jueces tienen el importante papel de revisar la actuación del gobierno con el patrón de los derechos humanos‰.

Esa es la cuestión, pues si en aras de no se sabe qué eficacia antiterrorista, retroceden o se recortan por la acción de los gobiernos el derecho a la vida, a la libertad y a la seguridad; el derecho a no ser sometido a torturas ni tratos crueles o degradantes; el derecho a no ser detenido ni preso arbitrariamente, a que se presuma nuestra inocencia antes de juicio, a ser juzgado con garantías... Si los derechos humanos retroceden, los terroristas vencen. Hay maneras de enfrentarse a esa ferocidad irracional que no pasan por recortes de libertades, además de atacar las causas o caldos de cultivo que permiten el terrorismo. Coordinación entre gobiernos, mayor preparación de los servicios de seguridad, implicar a gobiernos y a ciudadanos de otras culturas, imaginación (muy escasa, habitualmente)∑ pero el poder siempre tiene la tentación de crecer y aumentar, de escapar a cualquier control.

La diferencia esencial entre un imperfecto país democrático y un temible país autoritario, totalitario, es que en el primero el poder está sometido a controles y limitaciones en aras de los derechos y libertades de los ciudadanos. Cuando más se recorten éstos ˆda igual cual sea la excusa o pretexto aducidos- más nos acercamos a la dictadura.

* Periodista

Solidarios 2005 ©

G-8: exportadores globales de 84% de las armas

Héctor Oliva *
29 de julio de 2005

Los países del G-8 son responsables del 84% de las exportaciones mundiales de armas que tienen lugar cada año, según un informe de Amnistía Internacional y Oxfam Internacional.

Un verdadero compromiso con África y con el desarrollo de los países del sur debería conllevar medidas firmes para reducir de manera significativa la exportación de armas a los países empobrecidos. El G-8 no está dispuesto a afrontar este problema porque el problema reside en ellos.

Los cinco principales exportadores de armas del mundo forman parte del G-8. Son, por este orden, Estados Unidos, Reino Unido, Francia, Rusia y Alemania. En cuanto a la exportación de armas ligeras, que matan cada año a 500.000 personas, el podium está conformado por Estados Unidos, Italia y Alemania.

Estas exportaciones en muchos casos tienen como consecuencia la perpetuación de los conflictos, el aborto de procesos de paz y la violación de derechos humanos. El G-8 debería liderar el camino hacia un mundo más seguro, pero sus exportaciones contribuyen a incrementar la inestabilidad y los conflictos.

Los ocho países más ricos del mundo invierten en la industria armamentística diez veces más de lo que destinan a ayuda al desarrollo. Estados Unidos alcanza el peor registro: 24 veces más en armas que en ayuda. El informe de Amnistía y Oxfam revela que los países del G-8 no sólo se saltan los embargos de Naciones Unidas, sino que todos ellos violan sus propias leyes nacionales.

Alemania exportó en 2001 armas ligeras por valor de 156 millones de dólares. Si bien tiene una legislación restrictiva en la exportación de armas completas, apenas existe control de las exportaciones de componentes armamentísticos y del material de doble uso.

Estados Unidos es el líder en todo: producción de armas, exportación, venta de armas ligeras, y venta a países menos desarrollados. Exporta una media de 19.000 millones de dólares al año en armas. En el último quinquenio su principal cliente ha sido Arabia Saudí, con unas compras de 6.300 millones de dólares. Cuatro de las cinco principales empresas armamentísticas son estadounidenses. La legislación norteamericana prohíbe brindar ayuda militar a países cuyas fuerzas de seguridad violen los derechos humanos, pero EEUU exporta armas a Arabia Saudí, Israel, Nigeria, Filipinas o Sri Lanka.

Francia ha exportado en los últimos años armas a países como Sudán, Myanmar o China, que sufren sendos embargos de la Unión Europea o de Naciones Unidas. En el caso de Sudán y Myanmar se exportaron casi dos millones de euros en bombas, granadas y municiones con una total falta de transparencia.

Italia ha vendido en los últimos años armas ligeras a países como Sierra Leona, Nigeria, Colombia o Kazajstán. Estos envíos violan la propia legislación italiana, que prohíbe ventas a países en conflicto. Uno de los problemas clave de las exportaciones italianas es que el 33% de las armas son consideradas de uso civil y reciben un control mucho más laxo. Estas armas "civiles" han sido vendidas a RD Congo, Colombia o Guatemala.

El Reino Unido es el segundo exportador de armas mundial, con unas ventas de 4.300 millones de dólares al año. El gobierno de Blair presume de tener uno de los sistemas de licencias de exportación más estrictos y transparentes del mundo, pero últimamente ha hecho un uso exagerado de las "licencias abiertas", que permiten hacer múltiples cargamentos a determinado destino sin necesidad de control.

Rusia exporta armas alrededor del mundo sin ningún criterio de carácter ético ni legal. Algunos de los casos más evidentes son el suministro de munición a Corea del Norte, de equipamiento militar a Birmania, de helicópteros de combate a Nigeria, o de grandes sistemas de artillería a Etiopía mientras pesaba un embargo de Naciones Unidas sobre este país.

Ricardo Magán, coordinador de Armas bajo Control en Intermón Oxfam, considera que "el G-8 debe abandonar la retórica y empezar a mostrar acciones concretas, como la adhesión al tratado internacional. No hacerlo es una irresponsabilidad frente a quienes sufren la violencia en su propia piel".

Si el problema está en el G-8, es el resto de países los que deben desencallar esta situación. Intermón Oxfam y Amnistía Internacional proponen en su campaña Armas bajo Control que los gobiernos se pongan de acuerdo para elaborar y adoptar un tratado internacional para el control del comercio de armas, que ponga fin a las malas prácticas existentes. Este tratado internacional, cuya idea ya ha sido asumida por más de una veintena de países, debería aplicarse a todo tipo de armas, ser vinculante, y estar basado en el derecho internacional.

* Intermón - Oxfam

Solidarios 2005 ©

28 July, 2005

Mulheres no poder alteram desenho da voz

(Amigos e amigas, como sabem, desde a década dos 80 trabalho sistematicamente com as relações entre Ética e Estética sob o ponto de vista da epistemologia não-dualista, pelo qual da imagem emana, por ela mesma, valores que, compreendidos, permitem a percepção de ações no mundo que articulam liberdade e vinculação com o que chamamos de Natureza e de Social. Venho insistindo, coerente com esta epistemologia (como a advaita vedanta, a taoísta e a monista) que a Vida é "apenas" desenho, imagem, imaginário, ma medida em que é organizações de espaço-tempo: é assim que sustento que o pensamento é desenho do mundo, a fala desenho do pensamento e a escrita desenho da fala. A síntese abaixo da tese de doutorado da Dra. Maruska Freire é preciosa neste sentido. Avaliem por vcs mesmos e mesmas. Evandro)

DINÂMICAS DA VOZ E DO GÊNERO: UMA QUESTÃO DE PODER
Autora: Maruska Freire Rameck

Orientadora: Prof.a. Dra. Sandra Madureira.
Doutorado: Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem-PUC.SP/NOV. 2001.

A voz tem um papel importante na interação comunicativa. Ela veicula traços da personalidade, status social, a emoção e a atitude de um falante. Com o objetivo de entender o por quê os ouvintes julgam certas vozes como tendo uma voz com atitude de poder e outras não, resolvi pesquisar à voz das mulheres executivas que chegaram aos postos de comando em suas empresas.

Pressupus que executivas nessa posição necessitam usar uma voz condizente com o cargo de poder que ocupa. Misturei as vozes das executivas com as de outras mulheres não executivas com nível de formação e de idade semelhantes. As vozes foram julgadas por 80 ouvintes a partir de um protocolo perceptivo-auditivo. Utilizei-me das categorias: poderosa / não poderosa; prepotente / não prepotente; segura / insegura para tal julgamento.

A voz reconhecida como a de poder, verso a de menor poder foram medidas e analisadas no laboratório Fonético Acústico – LIAC da PUC/SP. A voz de poder analisada e medida física-acústicamente apresentou: - predominância de pausas silenciosas curtas; - aceleração da fala; - agravamento da voz; e- direção descendente dos contornos entoacionais. A aceleração e a predominância das pausas curtas facilitam a manutenção dos turnos.

A auto-representação das mulheres executivas, observada a partir de seus depoimentos, nos faz pensar que realmente tal estratégia vocal é mais adequada para essas profissionais se expressarem em suas empresas. Tal suposição prende-se ao conhecimento de que essas mulheres tiveram de lutar muito, e ainda lutam, contra a discriminação para alcançarem os postos mais altos em suas empresas. Por isso necessitam estar o tempo todo com o domínio do que estão dizendo.

Por outro lado, o predomínio dos contornos entoacionais descendentes, relacionados à entonação assertiva, mais uma vez, é compatível com enquadres de expressão de “líder”. O agravamento da voz e a entonação assertiva pode realmente refletir a questão de gênero. Uma vez que cargos de comando foram predominantemente ocupados por homens, é plausível considerarmos que a mulher executiva, nessa posição, tenha se acomodado, consciente ou inconscientemente, ao padrão vocal masculino, imitando-o para obter aprovação social. Visto por esse ângulo, o falante se ajustaria a modificações fonoarticulatórias a fim de expressar uma materialidade fônica compatível com o que é esperado socialmente.Os ouvintes estão atrelados às questões relacionadas aos aspectos socioconstruídos e aos seus valores culturalmente aprendidos."

Maiores informações sobre o trabalho da Dra. Maruska: www.personalvoz.com

27 July, 2005

URGENTE: Paraty está ameaçada! Ajude com abaixo-assinado!

Queridos amigos e amigas, vejam só o que está acontecendo:

----------
From: "Maruska" maruska@amcham.com.br
Date: Tue, 26 Jul 2005 20:47:00 -0300
Subject: Re: Ajudem! URGENTE!!!

Prezados,
Ajudem-me a montar um abaixo assinado para evitar o abuso em destruir uma das costas marítimas e baía mais lindas do país entre Paraty e Angra dos Reis. Estava na audiência pública realizada em Paraty no dia 11 de julho. Escutei os representantes da BRASFELS explanarem sobre o tal projeto de dragagem no fundo de nossa baía. Um pessoal muito despreparado com um discurso bem distante do bom senso e da honestidade. Apresentaram um projeto tão descabido que eu mesma levantei e questionei tamanho descaso da não apresentação de outros dados científicos de analise realizado por outras universidades e não só por uma única, segundo eles, a PUC-RJ e do não convencimento de um possível e catastrófico impacto ambiental, uma destruição sem cabimento e sem medidas a nosso litoral. Leiam, após assinem contra este absurdo e copiem a mensagem e envie para maruskarameck@yahoo.com.br. Penso que se alcançarmos um âmbito nacional, talvez, nós paratienses poderemos impedir tamanha destruição.
Muito obrigada!

Maruska Freire Rameck

www.personalvoz.com

cigarraspousofamiliar@yahoo.com.br

RISCO AMBIENTAL NA BAÍA DE PARATY:

Estaleiro Brasfells pretende jogar argila com metais

pesados na Baía de Paraty . O estaleiro BRASFELS (operando em Angra, nas instalações do antigo Verolme) está construindo uma plataforma de exploração de petróleo e, para retira-la do estaleiro, precisa dragar um canal, movimentando mais de meio milhão de metros cúbicos de material (argila, silte, areia e metais pesados). O destino deste material retirado seria a Baía de Paraty.

No dia 11 aconteceu uma audiência pública na Casa da Cultura, com presença de moradores de Paraty e Angra (inclusive biólogos marinhos, mergulhadores, pescadores, profissionais de turismo, ambientalistas), assim como de autoridades (Prefeito de Paraty, Presidente da Câmara). Também estavam presentes representantes do Grupo Kepel Fells (proprietário do estaleiro) e metalúrgicos que trabalham no obra.

Os locais previstos para se jogar os dejetos seriam o parcel dos meros e a Ponta da Joatinga, locais de riquíssima vida marinha.

O impacto desse despejo vai ser enorme : será uma lâmina de lama de 80 cm.depositada no fundo do mar, liquidando com toda a cadeia alimentar da região (sementes de mariscos e ostras, ovas de peixes, filhotes de camarão). A água ficará turva por um enorme período de tempo, o que prejudicará toda a atividade turística (não só em Paraty, mas em toda a Baía da Ilha Grande).

A audiência se estendeu até às 2h da madrugada, com depoimentos exaltados e a rejeição a esta ação foi total. Ficou acertado que todos os documentos e abaixo-assinados entregues serão analisados no prazo de 10 dias. As reuniões continuam também em Angra.

..............
Assim sendo podem procurá-la via e-mail

É crer para ver

Por Gustavo Barreto, da Redação, 26/7/2005

Falar sobre escândalos de pastores de igrejas que se aproveitam do dízimo bem intencionado dos fiéis pode ser muito perigoso. Boa parte das pessoas usa a exploração financeira para jogar todo o seu ódio contra a fé alheia, já que a maior parte delas se diz "cética". Não consegui enxergar relação entre fé e exploração, embora saiba que existe, evidentemente, relação entre religião e exploração.

O fato é que muitas pessoas se utilizam da religião para ganhar dinheiro, e muito. Mas ter fé - seja qual for - é errado, "alienante" ou estúpido? Claro que não. Algum jornalista já se preocupou em tentar ver que muitas igrejas que exageram no dízimo ajudam muita gente no plano pessoal, mesmo que, repito, alguns pastores se utilizem de forma criminosa dos dividendos disso?

Pois elas ajudam, e a ajuda é sincera e real na maior parte dos casos. Nunca fui um religioso e cometi o erro, por muitos anos, de ter fé apenas na vida material, mundana. Sei por breve experiência que religião/fé não é um tema para aquele cara (jornalista ou não) que acha que "morreu, acabou". É bem mais embaixo, bem mais profundo, e talvez o jornalismo tal como é constituído nunca entenderá, pelo menos por um bom tempo.

Esse entendimento poderia ajudar muitas pessoas a entender o que move o público. Isto certamente teria reflexos positivos na própria profissão, mas também (e principalmente) no plano pessoal. Creio, no entanto, que esta é uma questão que não pode ser afirmada. Só pode ser sentida e vivida.

_____________________________
Gustavo Barreto é editor da revista Consciência.Net (www.consciencia.net), colaborador do Núcleo Piratininga de Comunicação (www.piratininga.org.br), estudante de Comunicação Social da UFRJ e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Inciação Científica (PIBIC) pela ECO/UFRJ. Contato por e-mail: gustavo@consciencia.net
http://www.consciencia.net/2005/mes/11/gb-credo.html

La ética como escritura: Mario Vargas Llosa y Octavio Paz

Rafael Fauquié

Profesor titular jubilado
Universidad Simón Bolívar de Caracas

"Un escritor puede ser un hombre radical o conservador, pero lo que está obligado a ser siempre es intelectualmente íntegro, y no incurrir en el estereotipo, en el cliché o en la pura mentira retórica para conseguir el aplauso de un auditorio". Mario Vargas Llosa: Contra viento y marea

"La historia de la literatura moderna es la historia de una larga pasión desdichada por la política ... Pero no podemos renegar de la política: sería peor que escupir contra el cielo: escupir contra nosotros mismos". Octavio Paz: El ogro filantrópico

¿Ensayo, espacio de la curiosidad indagadora y de la libertad del ingenio creador? ¿territorio ético de la certeza, de la convicción, de la cátedra? Ambas opciones han convivido en nuestro medio cultural latinoamericano. En el siglo pasado, a comienzos de éste, prevaleció la segunda; en nuestros días, parece imponerse la primera. Ensayos que multiplican la confidencia, el guiño cómplice, la amenidad, la belleza poética. Destaco uno escrito hace ya casi medio siglo: El laberinto de la soledad. Publicado en 1950, él mostraba una nueva forma de contar, de decir. El origen del libro era curioso. Nació de una novela fallida que aspiraba a describir las aventuras y desventuras del México contemporáneo. Aquella novela que nunca se llegó a publicar porque según propia confesión de su autor -Octavio Paz- era muy mala, terminó por originar uno de los mejores trabajos ensayísticos de nuestra tradición literaria. El laberinto de la soledad era peculiar por su lenguaje y por sus ideas. En sus páginas se deshacían mitos; se quebraban tabúes; se desarrollaban de una forma ligera, amplia y a la vez densa, los más diversos temas; en él no se repetían prejuicios ni lugares comunes sobre nuestras variadas leyendas políticas latinoamericanas; por último -y tal vez lo más importante- hacía de la verbalidad, chispeante, bella, poética, la mejor aliada del pensamiento.

El laberinto de la soledad partía de comparaciones entre Estados Unidos y México que -cosa rara- no establecían ganadores ni perdedores; sólo diferencias. Una de sus hipótesis más importantes aceptaba que entre las culturas no hay balances sino variedad. Su final abría opciones, sugería nuevas miradas frente a México, frente a la América Latina, frente a Estados Unidos. Desarrollaba, además, el tema de los mitos y la historia. Las culturas -era una de sus tesis- se apoyan sobre mitos. Los mitos son una forma de enmascaramiento colectivo y el enmascaramiento es un proceso que han repetido -para sobrevivir, para reconocerse, para presentarse y representarse- todos los pueblos, todas las civilizaciones. Gran parte de los análisis del libro eran cotejos: las máscaras mexicanas y las máscaras norteamericanas; el yo y el otro; el hombre y la mujer; la mentira política y la verdad histórica; el pasado y el presente mexicanos.

Para la época en que leí El laberinto de la soledad, ya conocía bastante bien casi todas las primeras novelas de Mario Vargas Llosa. Sé que la relación entre ambos autores y entre dos géneros diferentes como el ensayo y la novela, puede parecer extraña, traída por los cabellos; sin embargo, mucho de esa actitud de lúcida independencia, de expresión abierta y valiente que yo había percibido en el libro de Paz me parecía repetirse, vagamente familiar, eco de nociones similares, en los primeros textos de Mario Vargas Llosa. La ciudad y los perros, La casa verde, Conversación en la catedral, denunciaban inconfundibles y repetidos fantasmas de nuestro mundo hispanoamericano: el poder y sus excesos, la intolerancia, los nacionalismos desquiciados, el enmascaramiento del machismo, los disimulados desconciertos de nuestros grupos dirigentes, las deformaciones de nuestra historia... Seguirían, luego, en mi lectura otras nuevas novelas: La guerra del fin del mundo e Historia de Mayta. Las dos desarrollaban temas que sumaban rechazos y multiplicaban desmitificaciones. Comencé a interesarme por las convicciones éticas y políticas de su autor. Empecé a aproximarme a su obra ensayística. Esta corroboraría la imagen que ya tenía de Vargas Llosa como "poco encasillable". La lectura de su libro de ensayos, Contra viento y marea [1], me descubrió a un ser obsesivamente empeñado en eludir itinerarios ideológicos prefijados. Escritor comprometido sólo consigo mismo y con su propia honestidad. Sus afirmaciones -que muchas veces yo no compartía- me lucían auténticas, sinceras, valientes. También me llamaron la atención sus diversas admiraciones: El Che Guevara y Neruda, Malraux y Sartre, Faulkner y Flaubert.

En Octavio Paz y en Mario Vargas Llosa vislumbré formas parecidas de lucidez e independencia ante los vaivenes del hecho político, los mitos de la historia y las valoraciones de ciertos signos del presente. Las semejanzas entre los dos autores evocaban una concepción similar sobre el papel del intelectual dentro de su sociedad: crítica voz de su circunstancia. También coincidían en su idéntica predisposición a no dejarse arrastrar por corrientes de opinión sustentadas por las mayorías, lugares comunes de un amplio espectro de la intelectualidad latinoamericana. Me llamaba también la atención -¡cómo no!- la forma en que uno y otro eran ferozmente atacados por corrientes ideológicas de todo tipo: las derechas y las izquierdas de sus respectivos países parecían detestarlos por igual.

Admiro la honestidad intelectual. Ella se traduce en coherencia y en solidez de principios. Ser intelectualmente honesto, es ser libre, ser fiel a sí mismo. De eso que llamo honestidad intelectual, me atrae la imagen de una individualidad libre y crítica: expresión de la conciencia independiente de los autores ante los fantasmas del tiempo. Valentía, también, al asumir cierta honda y personal relación con el universo. Ser honesto es ser lúcido. Es imposible traicionar la lucidez sin traicionarse uno mismo. Octavio Paz y Mario Vargas Llosa ejemplificaban esa consistencia. Mucho más importante que la coincidencia con el autor que leemos, es la identificación con su actitud; más allá del acuerdo directo: analogía entre nuestras concepciones y las suyas, trazos paralelos en el desciframiento, de la relación hombre-universo.

Vargas Llosa y Paz utilizan el ensayo de distinta forma. Paz -poeta- escribe ensayos dedicados a la indagación de temas poéticos, históricos, políticos que, a medida que se desarrollan, crean nuevas interrogantes y amplían los espacios interrogados a partir de categorizaciones que tienden a la globalización; tentaculares sistemas de ideas, de saberes siempre iluminadores, siempre enriquecedores. Vargas Llosa -novelista- escribe ensayos más rápidos y urgentes, más inmediatos, más ceñidos a la cercanía de hechos concretos; fusión de reportaje periodístico y de ensayo, de palabra y acción, de verbo y recuerdo estrechamente cercanos en el dinamismo de una escritura hecha de vitalidad, de proximidad a la circunstancia cotidiana. Octavio Paz interroga a la historia para descifrar en ella el presente y sus contradicciones; Vargas Llosa, interpela a su circunstancia para descubrirse a sí mismo: hombre de su tiempo en relación con él. Más reflexionador de su aquí y su ahora inmediatos, Vargas Llosa termina contradiciéndose más que Paz; éste, es más continuo y coherente, menos exaltado también. La vehemencia pareciera guiar la mayoría de las afirmaciones, negaciones y descubrimientos de Vargas Llosa. El mexicano luce más sutil, mesurado y esteta; el peruano, más asertivo y directo. La distancia que media entre entre uno y otro es, a menudo, la que separa la vehemencia de la mesura. La lectura de Paz, la mirada de Vargas Llosa, nos recuerdan que la razón es otra puerta de entrada a la aventura colectiva e individual del vivir. Contradiciendo tópicos, criticando lugares comunes, ambos han convertido su propia ética en representativa imaginería de su prosa. Vargas Llosa y Paz son, además y sobre todo, verdaderos artífices de la palabra. Palabra al servicio de la idea, palabra que es idea: exacta, precisa. Concisión: rigor de una escritura donde nada falta y nada sobra. Densidad: mucho sentido en poco espacio, mayor cantidad de ideas en menor cantidad de palabras. Densidad y concisión son algunas de las más cabales fórmulas de toda bella prosa. Ambos las poseen, sin duda.

La muerte de las ideologías

Fin del sueño revolucionario. Nuestro tiempo se ha encargado de borrar cruelmente las diversas quimeras que dibujaron algunos mitos de la edad moderna. Uno de ellos, la Revolución. "Aquél que construye la casa de la felicidad futura -dice Paz- edifica la cárcel del presente". Una cosa en común han tenido las revoluciones que ha conocido nuestro siglo XX: la contradicción entre los ideales volcados al porvenir y las férreas estructuras de poder que ellas han generado en el presente. Después de la ilusión revolucionaria, el anquilosamiento. Los ideales se petrifican, los rebeldes se convierten en comisarios o en verdugos. Las esperanzas de la Revolución Francesa, preludiaron la muerte burocratizada del Terror; los sueños de la Revolución Soviética, murieron con Stalin; la aurora anunciada por la Revolución Cubana, luz que despertó a todo nuestro continente, se disipó en la larga tiranía personalista de Castro. En todos los casos, los hombres y la realidad anularon los sueños. En su libro Los hijos del limo, dice Paz: "Con la misma saña con que la Iglesia castigó a los místicos, iluminados y quietistas, el Estado revolucionario ha perseguido a los poetas". Nuevos tiempos, otros signos. Reaparecen viejos dioses con otros rostros y nuevas devociones. La necesidad deificadora de los hombres no desaparece, cambia. El rostro de los dioses es la máscara sobre la que esculpimos veneraciones y temores. La faz de los dioses refleja la mirada humana: aspiración de entender, de ordenar el universo y de sobrevivir en él.

Una irrefutable verdad apoya esta declaración de Vargas Llosa: "La democracia que perpetra genocidios, invade países pequeños, refuerza gobiernos vesánicos y expolia a las naciones pobres y el socialismo que envía tanques para disciplinar a sus aliados, perfecciona el autoritarismo hasta lo grotesco y convierte a la psiquiatría en rama de la policía, a la hora de ser juzgados por su comportamiento resultan, desde el punto de vista moral poco diferenciables". Octavio Paz, por su parte, ha comentado con amarga ironía que sería necesario pedirle a las víctimas de los campos de concentración nazis o a las víctimas del Gulag staliniano que identificasen, ellas, las diferencias entre el fascismo alemán y el comunismo soviético. Lo que es correcto, lo es tanto de un lado como de otro; lo elogiable o condenable es siempre elogiable o condenable. No existen barómetros morales particulares para medir ideologías diferentes. No es necesario coincidir con las evoluciones de Vargas Llosa frente al tema de, por ejemplo, la Revolución Cubana, para comprender el sentido y la coherencia de esas evoluciones. El propio Vargas Llosa, frecuentemente, se ha encargado de explicarlas. Para mí, sus argumentos son y siempre han sido convincentes. No se trata, subrayo, de compartir sus criterios sino de aceptarlos en lo que más los valida: su consistencia ética.

Vivir en el ideal, morir por él. Si bien el ideal puede dignificar, eso no justifica todos los excesos, los crímenes, que se puedan cumplir en su nombre. En la obra de ficción de Vargas Llosa, se repite un personaje particular: el del revolucionario mediocre, hundido en inescapables pantanos de deterioro físico y moral. Dos novelas, Historia de Mayta y La guerra del fin del mundo, lo desarrollan. En La guerra..., un personaje, el revolucionario escocés Galileo Gall, reproduce, parodiándolo grotescamente, ese lugar común que defiende la validez de todas las acciones emprendidas en pos de un ideal. En Historia de Mayta, el idealista revolucionario y mediocre es mucho más que un personaje, se convierte en símbolo mismo de la marginalidad asumida como forma de vida y único contacto con el universo. Mayta, en su infortunio y en sus errores, termina por convertir en caricatural parodia todos sus actos revolucionarios. El fracaso de su vida es el fracaso de sus sueños. Hay un artículo en Contra viento y marea -"El homicida indelicado"- donde Vargas Llosa desarrolla conceptualmente el mismo tema: lo grotesco del terrorismo y de sus argumentos. Las razones son simples: ningún sueño humano, ninguna pretensión por justa que ésta sea, disculpa el crimen, ninguna ilusión, sueño o anhelo, justifica el que se asesine en su nombre.

Octavio Paz, por su parte y también en otro artículo, "El asesino y la eternidad" [2], referido al asesinato de León Trotsky, plantea una idea parecida. No importa en nombre de qué ideal o de que sueño, el asesino de Trotsky cometió su crimen. En la memoria de la historia, sólo perdura su acto sangriento, la brutalidad absurda de un instante. El recuerdo perpetuará ese momento y la evocación del homicidio desdibujará cualquier otra mirada, toda otra consideración. El crimen de Trotsky será para siempre sólo eso: un crimen; su ejecutor, un asesino; y su acto, una abominable e injustificable transgresión. Para Paz, el revolucionario idealista es la nueva versión del viejo mártir, sólo que la vieja adoración devota de éste se ha reducido a la repetición obsesiva de escasas ideas aprendidas en algún manual. En ambos casos -mártir o revolucionario- la irracionalidad señala al fanático impredecible y errático.

Paz y Vargas Llosa han trabajado a menudo el tema de la fragilidad de las ideologías: la precariedad de su trazo en la verdadera historia de los pueblos. Los dos reconocen que, mucho más fuerte que el proyecto ideológico que una nación decida asignarse en la voluntad de sus dirigentes y en un determinado momento de su historia, siempre terminará por imponerse en esa nación el peso de su tradición, el dictamen de su pasado, la voz y la suma de sus experiencias colectivas vividas a lo largo del tiempo. El mundo contemporáneo ha sido testigo de ello una y otra vez. Nuestra época contempla asombrada cómo regresan y se imponen, hoy, modos y fuerzas del pasado que todos pudieron pensar desaparecidos. Vigorosos, renacen dogmatismos religiosos, ecos de lejanos tiempos, como en el caso de Irán. Se establecen, también -aún efímeras- viejas alianzas históricas entre pueblos de sistemas opuestos. Durante la corta guerra de las Malvinas entre argentinos e ingleses se vio, de un lado, a casi todo el continente latinoamericano unido en contra del imperialismo anglosajón, en una actitud que evocaba el viejo odio de las provincias americanas del Imperio español hacia el pirata inglés, detestado enemigo durante tres siglos. Como un atavismo que renacía, la imagen del corsario sajón aborrecido, despertó en la conciencia colectiva de toda América Latina, generando alianzas tan curiosas -y más que curiosas, surrealistas- como la que se dio entre la dictadura marxista de Fidel Castro y la dictadura de extrema derecha de los militares argentinos. Al día siguiente de su salida de Viet Nam, Estados Unidos vio cómo, tras veinte años de lucha, China y Viet Nam, aliados todo ese tiempo, se enfrentaban en guerra. La frecuente incapacidad de convivencia -y hasta de cualquier forma de relación- entre países de ideologías similares habla de la inconsistencia, de la fragilidad del vínculo ideológico.

A estas alturas de la historia, comenta Octavio Paz en una de las páginas de Tiempo nublado, Maquiavelo debe estar sonriendo. Sus tesis sobre la despiadada pragmática de la voluntad del poderoso príncipe, resultaron mucho más veraces que las profecías marxistas. Los nacionalismos prevalecen por sobre las ideologías. "Más hondo que las ideologías -dice Octavio Paz en El ogro filantrópico- hay otro dominio que apenas tocan los cambios de la historia: las creencias". La afirmación me recuerda una interpretación de la historia latinoamericana contemporánea en la que muy a menudo han coincidido Paz y Vargas Llosa: Fidel Castro es mucho más una versión actual de nuestro irrenunciable caudillismo hispánico que la respuesta de un auténtico tiempo revolucionario. A comienzos de nuestro siglo, durante la Primera Guerra Mundial, las naciones europeas -una vez más- se destrozaron con saña. Pocos decenios después de los vaticinios de Marx acerca de la unión del proletariado universal, la Guerra del Catorce demostró que obreros alemanes, franceses o ingleses eran alemanes, franceses o ingleses antes que obreros. En nuestros días, el regreso de los nacionalismos ha significado la revitalización de la tradición. Las regiones se reconocen en su propia autenticidad y se desconocen en forzadas vinculaciones ideológicas. El desmoronamiento de la Unión Soviética se aceleró por las fuertes presiones autonómicas de pueblos y regiones que, por sobre todo, querían defender su individualidad. En Yugoeslavia, a poco tiempo de la muerte de Tito, afloraron todas las discrepancias y los viejos odios entre serbios y croatas. La afinidad ideológica que los agrupó como nación durante varias décadas, no significó absolutamente nada frente al peso de rencores acumulados por la historia. El pasado es el rostro de las naciones. Lo ideológico sólo puede apoyar ese rostro. Si lo contradice, entonces la ideología, además de inútil, se hace postiza y absurda falsedad.

Partidos políticos, iglesias, gobiernos: para los escritores, complacerlos o seguirlos con demasiada incondicionalidad, plantea una insuperable contradicción con la libertad y la independencia que debe sustentar la creación literaria. La literatura moderna es naturalmente cuestionadora. Critica poderes, instituciones, valores. Se aviene mal con la obediencia y con el asentimiento permanentes. El espíritu de la contemporaneidad heredó de la Ilustración del siglo XVIII la curiosidad y la necesidad de interrogarse sobre el sentido de todo. El escritor de nuestros días juzga, valora; con su obra, cuestiona y desmorona muchos de los signos de nuestra actualidad desorientada. Si hay dos escritores que encarnen esa actitud de crítica ante ideologías y doctrinas, catecismos y sistemas, ellos son, en nuestro contexto latinoamericano, Vargas Llosa y Octavio Paz. Ningún espacio ideológico preciso los reclama como suyos. O mejor, todas las tendencias parecen condenarlos. No los acepta ni la derecha ni la izquierda. La derecha los considera incómodos hipercríticos, permanentes desvalorizadores; la izquierda, como reaccionarios siempre insatisfechos, negativos e impredecibles. Vargas Llosa ha agredido frecuentemente a algunos de los sectores más conservadores de su país. Su posición en contra del nacionalismo peruano (en relación, por ejemplo, con las viejas rencillas que continúan enfrentando a chilenos y peruanos cien años después de la Guerra del Pacífico), le granjeó fuertes ataques por parte de la derecha de su nación. Se le reprochaba haber firmado, junto a otros intelectuales, un manifiesto a favor del acercamiento entre Perú y Chile, proponiendo olvidar los viejos rencores de la guerra. Entre otras cosas, se lo tildó de traidor, y algún energúmeno llegó a pedir que le fuese retirada su nacionalidad peruana.

Hablar en contra del nacionalismo y de los militares es siempre riesgoso en nuestros países. Vargas Llosa lo ha venido haciendo desde su primera novela, La ciudad y los perros (1963). "Un sano nacionalismo -ha aclarado- es necesario para los países subdesarrollados que gracias a él pueden evitar ser fácil presa de la voracidad de las naciones más poderosas y de las empresas transnacionales. Pero -prosigue- si el nacionalismo no es frenado y contrapesado de manera eficaz se convierte en una verdadera fuente de desastres (...) se vuelve una coartada para los peores dislates y estropicios de un gobierno".

A Octavio Paz, la izquierda de su país lo ha acusado frecuentemente de "rapaz" -rima con Paz- y de traidor al servicio del imperialismo yanqui. Por su posición crítica ante Cuba y más recientemente -aunque con otros matices- ante la Revolución Sandinista de Nicaragua, los sectores más radicales de la juventud mexicana lo acusaron -con poca originalidad, por cierto- de ser un espía al servicio de la C.I.A. La frase que se acuñó -recuerdo haberla leído alguna vez- fue "Reagan, rapaz, tu cómplice es Octavio Paz". Tampoco la derecha mexicana experimenta mayores simpatías hacia él. Desde luego, Paz nunca las ha buscado. A lo largo de su obra, abiertamente ha atacado a ambas: a la izquierda mexicana, por ocuparse sólo de discutir; a la derecha, por su obsesivo y único afán de hacer dinero. La derecha debe considerar a Paz un liberal quisquilloso, permanente e incómodo crítico de todas esas pequeñeces, medianías y mezquindades que suelen ser las auténticas razones de las derechas del mundo entero. A la izquierda, debe molestarle la falta de dogmatismo de Paz; su particular sentido de independencia que lo lleva a criticarlo todo, a no plegarse a consigna alguna ni a comulgar en misas de acólitos repetidores de ritos y rituales.

La cercanía entre Vargas Llosa, Octavio Paz y el pensador francés Jean François Revel es estrecha. Revel es un autor que conoce de cerca al Tercer Mundo y sus problemas (al igual que los mitos distorsionadores con que los países del Primer Mundo frecuentemente interpretan esos problemas). Por su acercamiento -sincero, apasionado- a nuestra realidad latinoamericana, Revel es una rara avis. En los países desarrollados se hace difícil encontrar intelectuales como él, genuinamente interesados, con lúcida curiosidad y sensatez desprovista de paternalismos o de menosprecios etnocéntricos, por lo que suceda en Latinoamérica. Algunas tesis de Revel (la necesidad de independencia de criterio frente a las presiones ideológicas, la importancia de la crítica como elemento consubstancial a la obra de arte, la falacia del "arte comprometido", el peligro de las mentiras que de tanto repetirse se han hecho verdades en nuestro mundo contemporáneo), las comparten por entero Vargas Llosa y Paz. El razonamiento de Revel luce irrefutable: sin libertad política no hay ejercicio de la crítica y sin crítica no hay vitalidad creadora. Los dogmatismos chocan con la creatividad. En nuestro tiempo, los países gobernados por regímenes totalitarios, hasta ahora nunca se han situado en un terreno de avanzada en el mundo de las ideas o del arte.

Son numerosas las coincidencias entre Revel, Paz y Vargas Llosa. Una principalmente: los tres escudriñan en su tiempo, indiferentes y sordos frente argumentaciones que la reiteración colectiva ha convertido en tópicos. Es peligroso el lugar común: nos acostumbramos a repetirlo y, repitiéndolo, a creerlo. Conviene puntualizar que ciertos interlocutores a los que Revel se enfrenta constantemente en su país, no existen en el contexto latinoamericano de Paz y Vargas Llosa. O, al menos, no existen de la misma forma como existen en Francia. Por ejemplo, no suele darse entre nosotros una intelligentzia de izquierda muy poderosamente intervencionista dentro de los cotidianos conciertos nacionales. La voz de nuestros intelectuales "progresistas" es muchísimo menos sonora que en el mundo francés; tiene una cabida más reducida dentro de medios de comunicación masiva invadidos por los lugares comunes de políticos y por los intereses de los amos del poder económico. Reducidos al vocinglero -y frecuentemente aisladísimo- espacio universitario, los intelectuales izquierdistas tienen, por ejemplo en Venezuela, muy pocas oportunidades de ser escuchados fuera de la cátedra o de algunas escasamente leídas columnas de opinión periodística o poco vistos programas televisivos. En general, un medio tan difundido -y eficaz- como la televisión suele serle ajena a la gran mayoría de nuestra izquierda.

La contradicción y la pasión.

Tanto Vargas Llosa como Paz exigen el derecho a la contradicción. Contradecirse es, tal vez, la más natural de las actitudes auténticamente críticas. Vivir es evolucionar, crecer, cambiar. Tanto más intensamente vivimos, tanto más susceptibles somos de transformar nuestras miradas y nuestras valoraciones. En el caso de Vargas Llosa, la contradicción termina por hacerse estilo natural, derecho que se exige irrenunciable. Los artículos que escribió en la década de los sesenta, expresan, en muchos sentidos, la exacta antítesis de los que escribe ahora. Curiosamente: frente a iguales temas, conclusiones opuestas.

Tal vez el mayor ejemplo humano de ejercicio de contradicción que recuerde nuestro siglo XX es, precisamente, uno de los grandes mitos referenciales de Vargas Llosa: Jean Paul Sartre. Numerosas veces ha reconocido Vargas Llosa sus profundas deudas con Sartre (a pesar de que su actitud ante el pensador francés es de una extraordinaria dureza crítica). El grupo que rodeó a Sartre -Simone de Beauvoir, Merleau-Ponty, Albert Camus- atrajo muy especialmente la atención de Vargas Llosa (como a toda una joven intelectualidad occidental, que contempló en ellos los exponentes máximos de la sabiduría contemporánea). A Sartre, Vargas Llosa lo veneró hasta el momento de la anecdótica ruptura entre ambos. Sartre escribió una fuerte crítica contra la escritura de ficción en los países subdesarrollados, donde -según su tesis- el intelectual se debía sólo al desarrollo y la superación de su pueblo. Escribir ficción, hacer literatura era, según esa versión, una futilidad irresponsable; casi una abierta inmoralidad. Un novelista en un país africano, asiático o latinoamericano era, para Sartre, un ser definitivamente inmoral. En este punto se separaron los caminos de Vargas Llosa y del filósofo francés. Sin embargo, la ruptura no fue total. Vargas Llosa lo siguió leyendo con interés. En el fondo, nunca dejó de estar muy próximo de su beligerancia feroz, de su irrenunciable criticismo.

También Paz estuvo en algún momento cerca de Sartre. Le dedicó un artículo: "Memento: Jean Paul Sartre" [3]. En él, recuerda cómo lo conoció personalmente, cómo se reunieron en varias oportunidades en un café parisino para conversar sobre diversos temas. Paz distinguió en Sartre un hacedor de ideas que convertía en conceptos todas las realidades. En Sartre, dice Paz, coincideron dos herencias: la de la religiosidad intolerante de calvinistas y hugonotes y la herencia de la Ilustración dieciochesca. Del lado calvinista, llegó a Sartre un ideal de hermandad universal; de la herencia de la Ilustración, una actitud siempre crítica, una inteligencia alerta. La de Sartre fue una actitud hipercrítica que, a veces, lo condujo hacia un exceso: el de la "miopía histórica" (son palabras de Paz). Paz describe a Sartre como un ser de "sorprendente continuidad moral" a quien siempre apasionaron los mismos temas. Recuerda Paz -y en eso difiere de Vargas Llosa- que Sartre fue, sobre todo, un paradójico literato que despreció la literatura. Lo mejor de su obra -dice- es la que se debe al imaginero, al fabulador, al apasionado polemista. Sin embargo, el polemizador terminó por perjudicar al crítico. Sus análisis concluían en acusaciones. Su visión fue la del dogmático moralista, la del profesor que enseña y transmite sólo incuestionables verdades. Sartre fue conciencia y pasión, conciencia de una pasión. Hizo de la filosofía-compromiso esencia de su vida. Filosofía comprometida y filosofía de gestos de compromiso, contradictorios y públicos. De lo mucho que Sartre escribió, Paz recuerda -para contradecirlas- dos frases extraordinarias: "el infierno es los otros" y "la vida comienza del otro lado de la desesperación". La vida de Sartre fue desesperada y desesperanzada. Sus sueños de hermandad universal lo condujeron a la insatisfacción ante el destino del hombre; tormento intelectual que le hizo apoyar todas las revoluciones de nuestro tiempo. En fin: Paz y Vargas Llosa desconfiaron de la virulencia, de la falta de tolerancia de Sartre, pero respetaron la valentía y la pasión con que siempre defendió los principios que decidió asumir.

En su artículo "Las antimemorias de Malraux", Vargas Llosa esboza una interesante tesis -que comparto-: la grandeza no es ajena a ciertos hombres sobre quienes los ojos de todos se depositan en algún momento. Son los elegidos de su tiempo. Cada época tiene los suyos. Es el caso, según Vargas Llosa, de André Malraux: excelente creador y, a la vez, hombre de acción que vivió de cerca algunos de los sucesos más importantes de este siglo y supo escribir sobre ellos. Plenitud de vida y plenitud de inteligencia relacionadas en la escritura. Vargas Llosa admira la acción y admira al hombre de acción. Quizá, en el fondo, es su propio anhelo: hacer de la vida y de la escritura espacios similares; uno y otro apoyándose y reforzándose. Por eso le resulta tan especialmente atractivo un personaje como André Malraux; a un mismo tiempo, creador y protagonista; juglar y guerrero.

En muchos sentidos, Paz ha sido un cabal intérprete de América Latina y de sus contradicciones. Desentrañar de nuestra conciencia colectiva mitos políticos, deformaciones culturales, espejismos desarrollistas y, en general, mentiras de todo tipo, ha sido su acción valiente y lúcida. Ahora, cuando se producen en el mundo cambios que deshacen años y años de inamovilidades que parecían definitivas, en momentos en que el desmoronamiento de arquitecturas socialistas y totalitarias pareciera reinstaurar viejas deificaciones hacia las todopoderosas leyes del mercado, Paz, de nuevo, introduce la desconfianza ante cualquier idolatría. "La economía -dice- es un campo; como la política y la cultura, en donde se despliega libremente la inteligencia, el esfuerzo y la voluntad de los hombres". El reconocimiento a la importancia de la economía no implica, en modo alguno, hacer de ella un culto. Recuerdo haber leído en El hombre rebelde una imagen con la que Albert Camus analogizaba el desarrollo económico a la de un dios pagano que exigía beber el néctar sólo en el cráneo de los enemigos muertos. La industrialización y la riqueza no han hecho más felices a norteamericanos y europeos. La búsqueda de los latinoamericanos de una vía que nos ayude a escapar a nuestras vulnerabilidades, no puede conducirnos a la idolatría de un sistema suicida sustentado en la indisoluble relación entre una producción desenfrenada que alimenta un consumismo igualmente desenfrenado.

Paz y Vargas Llosa son escritores de espacios y tiempos diferentes. La palabra ensayística de Paz es la palabra madura, decantada en la continuidad de una labor prolongada por muchos años. Trabajo constante, impregnado de una lucidez y una pasión que, lentamente, ha ido fijando distancias y estableciendo asideros. Tamizar, a través de la lucidez, el instante vivido. Convertir todas las experiencias en reflexión. Federico Nietzche dijo que lo que contaba para el hombre no era la eternidad sino la vivacidad. Poetizar la vida o vitalizar la poesía. La palabra literaria como refuerzo de la vida. Acrecentamiento de emociones a partir de la reflexión y de la poetización de lo vivido. Vargas Llosa posee la palabra del fabulador. Hay jóvenes que fabulan y jóvenes que escriben poesía. La precocidad es imaginable en ambos terrenos. No lo es, sin embargo, en el caso del ensayo. Este, necesita del transcurrir de la vida, de la suma del paso del tiempo, de la lucidez que acumula experiencias -y, sobre todo, miradas ante esas experiencias. La palabra conceptual se hace eco de praxis creadoras diferentes. El poeta es orfebre del término único labrado en parsimonia irrepetible. La del fabulador, es la palabra de generosa abundancia edificadora de universos imaginarios. Orígenes y resultados diferentes en lo estético; en lo ético, en Vargas Llosa y Paz se dan asombrosas coincidencias.

Los caminos de ambos se han ido estrechando hasta aproximarse en posiciones de directo compromiso ante los grandes temas que preocupan al hombre contemporáneo. Las palabras de Paz, con motivo de celebrarse el Encuentro Internacional sobre la Revolución de la Libertad, celebrado en Lima el 7 y 8 de marzo de 1990, claramente plantean el alcance de esas coincidencias: "Al hablar de libertad, pienso, como todos ustedes, en un hombre que desde hace años la encarna con dignidad, coherencia y valentía: Mario Vargas Llosa. Lo conozco y admiro desde hace muchos años. Primero me interesó el escritor, autor de admirables novelas; después, el pensador político y el combatiente por la libertad. Cuando hace dos años me confió su decisión de aceptar su candidatura a la presidencia del Perú, confieso que mi primer impulso fue disuadirlo. Pensé que perderíamos un gran escritor, en una lucha dudosa e incierta como todas las luchas políticas. Estaba equivocado: un hombre se debe a sus convicciones". Estas palabras eran el espaldarazo de un escritor a otro, de un intelectual a otro, de un ser humano a otro. Eran, también, el reconocimiento al itinerario ético de una escritura hilvanada en la firmeza, en la coherencia y en la autenticidad. Apoyando a Vargas Llosa, Paz no hacía sino reafirmar sus propios principios; mostrarse a sí mismo, espejo de la imagen del otro.

Notas:

[1] Me refiero a la primera edición completa, en dos volúmenes, que la editorial Seix Barral editó en el año 1986

[2] Incorporado al extenso artículo, "Las contaminaciones de la contingencia", del libro Hombres en su siglo, Barcelona, Seix Barral, 1984

[3] Publicado en: Hombres en su siglo.

© Rafael Fauquié 2005

Espéculo. Revista de estudios literarios. Universidad Complutense de Madrid

El URL de este documento es http://www.ucm.es/info/especulo/numero30/etiescri.html