(Amigos e amigas, como sabem, desde a década dos 80 trabalho sistematicamente com as relações entre Ética e Estética sob o ponto de vista da epistemologia não-dualista, pelo qual da imagem emana, por ela mesma, valores que, compreendidos, permitem a percepção de ações no mundo que articulam liberdade e vinculação com o que chamamos de Natureza e de Social. Venho insistindo, coerente com esta epistemologia (como a advaita vedanta, a taoísta e a monista) que a Vida é "apenas" desenho, imagem, imaginário, ma medida em que é organizações de espaço-tempo: é assim que sustento que o pensamento é desenho do mundo, a fala desenho do pensamento e a escrita desenho da fala. A síntese abaixo da tese de doutorado da Dra. Maruska Freire é preciosa neste sentido. Avaliem por vcs mesmos e mesmas. Evandro)
DINÂMICAS DA VOZ E DO GÊNERO: UMA QUESTÃO DE PODER
Autora: Maruska Freire Rameck
Orientadora: Prof.a. Dra. Sandra Madureira.
Doutorado: Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem-PUC.SP/NOV. 2001.
A voz tem um papel importante na interação comunicativa. Ela veicula traços da personalidade, status social, a emoção e a atitude de um falante. Com o objetivo de entender o por quê os ouvintes julgam certas vozes como tendo uma voz com atitude de poder e outras não, resolvi pesquisar à voz das mulheres executivas que chegaram aos postos de comando em suas empresas.
Pressupus que executivas nessa posição necessitam usar uma voz condizente com o cargo de poder que ocupa. Misturei as vozes das executivas com as de outras mulheres não executivas com nível de formação e de idade semelhantes. As vozes foram julgadas por 80 ouvintes a partir de um protocolo perceptivo-auditivo. Utilizei-me das categorias: poderosa / não poderosa; prepotente / não prepotente; segura / insegura para tal julgamento.
A voz reconhecida como a de poder, verso a de menor poder foram medidas e analisadas no laboratório Fonético Acústico – LIAC da PUC/SP. A voz de poder analisada e medida física-acústicamente apresentou: - predominância de pausas silenciosas curtas; - aceleração da fala; - agravamento da voz; e- direção descendente dos contornos entoacionais. A aceleração e a predominância das pausas curtas facilitam a manutenção dos turnos.
A auto-representação das mulheres executivas, observada a partir de seus depoimentos, nos faz pensar que realmente tal estratégia vocal é mais adequada para essas profissionais se expressarem em suas empresas. Tal suposição prende-se ao conhecimento de que essas mulheres tiveram de lutar muito, e ainda lutam, contra a discriminação para alcançarem os postos mais altos em suas empresas. Por isso necessitam estar o tempo todo com o domínio do que estão dizendo.
Por outro lado, o predomínio dos contornos entoacionais descendentes, relacionados à entonação assertiva, mais uma vez, é compatível com enquadres de expressão de “líder”. O agravamento da voz e a entonação assertiva pode realmente refletir a questão de gênero. Uma vez que cargos de comando foram predominantemente ocupados por homens, é plausível considerarmos que a mulher executiva, nessa posição, tenha se acomodado, consciente ou inconscientemente, ao padrão vocal masculino, imitando-o para obter aprovação social. Visto por esse ângulo, o falante se ajustaria a modificações fonoarticulatórias a fim de expressar uma materialidade fônica compatível com o que é esperado socialmente.Os ouvintes estão atrelados às questões relacionadas aos aspectos socioconstruídos e aos seus valores culturalmente aprendidos."
Maiores informações sobre o trabalho da Dra. Maruska: www.personalvoz.com
28 July, 2005
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