21 July, 2005

Bob Fernandes propõe CPI da Mídia

Vítor Rocha, de A Tarde On Line

O jornalista e fundador da revista semanal Carta Capital, Bob Fernandes, ironizou o comportamento da mídia em relação aos acontecimentos políticos no Brasil, que levaram às crises no governo Lula, no Congresso Nacional e no Partido dos Trabalhadores (PT), e sugeriu a criação de uma CPI para investigar a imprensa. Ele falou durante palestra no último dia do Seminário de Comunicação e Política (Compoli), realizado na manhã desta terça-feira (19/7), na Faculdade de Comunicação da Ufba. O jornalista dividiu a mesa do evento com o publicitário e presidente da agência Propeg, Fernando Barros.

Bob Fernandes teve livre acesso ao Palácio do Planalto e à casa legislativa durante os mais de dez anos que morou e trabalhou em Brasília. Ele falou na palestra sobre a construção e desconstrução da imagem política e o papel da mídia no processo, que julgou ser fundamental.

“Os meios de comunicação de massa constroem os heróis hoje, que são os questionadores e atores, e ao menos apresentam os currículos deles”, comentou. “Esses heróis de hoje são os vilões de ontem, e vice-versa”, ironizou, se referindo ao deputado Roberto Jefferson (PTB/RJ) – que denunciou o esquema de mensalão e fez parte da tropa de choque do ex-presidente Collor –, e ao senador Antônio Carlos Magalhães e ao deputado federal ACM Neto, ambos pefelistas, além de outros políticos envolvidos nos dois pólos da crise.

Silêncio sobre FHC

Bob Fernandes disse que os meios de comunicação não podem seguir sem controle social. “Isso é uma bomba atômica”. E que existiram, principalmente durante o governo FHC e a estabilidade do câmbio, “vários indícios de silêncio (por parte da imprensa) que precisam ser investigados”. Na opinião do jornalista, que hoje se dedica exclusivamente à elaboração de um livro sobre a vida do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a mídia age com oportunismo quando se trata da publicação dos fatos.

“Ninguém (da imprensa) nota nada quando não é a hora. Publiquei a gênesis do mensalão na matéria que fiz sobre as vésperas dos registros definitivos das candidaturas a presidente no TSE quando Lula, Zé Dirceu, Delúbio Soares, o vice José Alencar, e o presidente do PL, Waldemar Costa Neto, se encontraram no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PR) para fechar o apoio do PL ao Lula”, relatou, lendo trecho da reportagem publicada na Carta Capital.

A matéria informa que Zé Dirceu e Delúbio Soares acertam com o presidente do PL o apoio em troca de cerca de R$ 10 milhões. “Os fatos existem, mas já deveriam estar mais adiante”, completou.

Sobre a crise instalada no governo, Bob Fernandes falou como cidadão comum, justificando que não tem mais informações por não cobrir o caso. “É um desastre de comunicação a construção da imagem do governo. Eles não conseguem mostrar que foi a Polícia Federal quem pegou o assessor do irmão de José Genuíno com dólares na cueca”, exemplificou. Para ele, são de cerca de doze jornalistas que conduzem a opinião pública a respeito da política nacional por meio de Brasília, e que o governo não sabe utilizar este ator.

Conformismo

O publicitário Fernando Barros afirmou que há um estado de conformismo diante dos últimos acontecimentos políticos. “Não é novidade nenhuma e é deste jeito mesmo. Os partidos não dispõem de recursos para financiar as campanhas e sempre vão se bater com os financiadores. O problema está na proporção que toma a ligação entre eles e até onde está dentro da ética”.

Barros deu explicações técnicas a respeito da construção da imagem política e se mostrou cético em relação ao financiamento público de campanha. “Acho que a medida não resolve, pois o financiamento privado não iria acabar”, opina. “É a vida como ela é, parafraseando Nelson Rodrigues, mas não significa abandonar todas as idéias transformadoras”, respondeu, depois de uma provocação da platéia em relação à visão conformista dos fatos.

O Compoli debateu assuntos ligados a relação da comunicação com a política e foi organizado por estudantes da Faculdade de Comunicação, como parte integrante de uma disciplina ministrada pelo professor Fernando Conceição.

Fonte: A Tarde/Bahia

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